Resumo: A proposta deste projeto surgiu durante a prática de estágio em psicologia em uma Organização Não Governamental (ONG), que desenvolve atividades com crianças, adolescentes e idosos, em uma localidade vulnerável do município de Caruaru/PE. O público-alvo são mulheres em processo de envelhecimento em vulnerabilidade social. Observou-se, como problema social, as fragilidades e necessidades de cuidados em atenção psicossocial para a população idosa, destacando as condições de pobreza e falta de assistência em políticas, bem como altos índices de violência e tráfico de drogas. Em face ao atual cenário, encontra-se dificuldades vinculadas as dimensões da estereotipia, preconceitos e discriminação para com a pessoa idosa, e a conservação do pensamento patriarcal quanto aos papéis sociais da mulher, denunciando um conjunto de fatores introjetados da realidade social e cultural que reforçam e validam o idadismo, ou seja, o comportamento resultante na falta de dignidade relacionada a idade e capacidades. A saúde pública que até então estava organizada com ênfase em cuidados infanto-juvenil, se depara com a população que envelhece vertiginosamente, no entanto, a alocação dos recursos pouco se modificou, distorcendo o objetivo central do envelhecimento saudável, e a manutenção da funcionalidade e autonomia. Dessa forma, como estratégia de intervenção, o projeto focaliza o fortalecimento do vínculo com a referida ONG, e buscou apoiadores para a oferta de práticas interventivas, dialogando com a rede SUAS, Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, Conselho Municipal do Idoso e com a universidade, todas entidades localizadas na cidade de Caruaru/PE. Através da análise empírica e observação das estagiárias, foi avaliado quais serviços as moradoras da comunidade têm acesso, foram encontradas fragilidades no âmbito da assistência social e em saúde, como a necessidade de acompanhamento por profissionais da área da saúde que visem a promoção e prevenção, bem como a ausência de formação sociopolítica, o que implica no desconhecimento e violação de seus direitos e na elaboração de práticas emancipatórias. Considerando as necessidades emergenciais em Saúde Mental e a integridade física da mulher idosa e os fatores biopsicossiais, foram adotadas Oficinas Temáticas em Saúde e Oficinas Socioeducativas baseadas nos princípios da Educação Popular postulada por Paulo Freire. A Educação Popular apresenta relação entre o processo educacional e os interesses sociais, seus problemas e urgências vão além dos interesses políticos, o que leva a um processo educacional com a contribuição e transformação da sociedade. Constitui-se um referencial que valoriza práticas educativas com base na cultura e nos costumes locais, visando à formação da consciência política, mediada pelo valor da indissociabilidade entre a participação social e valorização dos saberes populares, radicalizando a perspectiva democratizante das políticas públicas. Perante as políticas neoliberais e das demandas sociais dos mais empobrecidos, a sociedade civil situa o trabalho das ONGs como um potencial lugar de atuação sóciocomunitária. Através deste, é possível realizar intervenções psicossociais construtivas por meio da refilantropização das questões sociais, convocando ao compromisso social e a leitura crítica e adequada da realidade. Contudo, é crucial desenvolver meios de proporcionar a garantia de direitos sem implicar uma despolitização social, visto que a doutrina neoliberalista potencializa as desigualdades sociais, reduz os investimentos sociais, e gera a estagnação do desenvolvimento socioeconômico. Esta experiência proporcionou vislumbrar das contribuições da Psicologia Social na comunidade, aguçando o olhar para o ser de modo integral, reconhecendo o valor do trabalho interdisciplinar. Além disso, comtempla-se a importância da quebra dos estigmas acerca da pessoa idosa, contribuindo para o desenvolvimento das potencialidades e perspectivas de vida. Entre as vivências, destaca-se a necessidade de debate sobre a escassez de recursos sociopolíticos, psicossociais e em saúde para a terceira idade em vulnerabilidade, e o descompromisso com os processos vivenciados pelas mulheres idosas, que vão interferir na adesão e no aproveitamento do envelhecimento ativo. O compartilhar desta experiência possibilita pensar em como o compromisso ético-político, e a participação social, apresentam novas formas de posicionamento profissional com e para a sociedade e os incentivos deste projeto na atuação na psicologia social. É necessário pensar em horizontes que possibilitem a reconstrução das políticas reforçadoras da saúde associada à manutenção da doença, que comprometem o bem-estar do indivíduo.

Palavras-chave: EDUCAÇÃO POPULAR. ENVELHECIMENTO. MULHER. VULNERABILIDADE.