Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Sirlene Pereira Bispo, José Fernando Andrade Costa
Resumo: A presente pesquisa visa contribuir para debate-crítico sobre o racismo, tomando como recorte um estudo sobre a representação do/a negro/a em jornais de Feira de Santana BA, no pós-abolição (1890 1910). O objetivo geral é promover um diálogo interdisciplinar entre Psicologia Social e o campo da História para a compreensão das representações ideológicas que sustentaram o racismo no período do pós-abolição. De modo específico busca-se analisar como se deu o processo de construção da criminalização/estereotipização do negro na esfera pública. Trata-se de uma pesquisa documental, de cunho historiográfico, e tem como objeto de análise os jornais que circulavam em Feira de Santana, no pós-abolição, disponíveis no acervo da Biblioteca Monsenhor Galvão, no Museu Casa do Sertão UEFS. Os resultados foram submetidos à análise de conteúdo, de modo que, após a leitura dos materiais, foram formuladas categorias analíticas relacionadas com as representações ideológicas sobre os/as negros/as. Percebe-se a preocupação com fenômenos psicológicos desde o tempo do Brasil colônia, assim, os estudos de processos psicológicos eram fortemente vinculados à ideia de ordenamento da massa negra no pós abolição. Nesse contexto, Feira de Santana foi uma região que se destacou, no estado da Bahia, por ser rota de várias estradas de comércio de gado da região, obtendo grande população de escravizados, que aumentou consideravelmente entre 1890 e 1910. Os jornais do período registram as representações que circulavam na esfera pública e, por isso, são passíveis de análise no tocante às relações raciais no imediato período pós-abolição. Dentre o material selecionado foram encontradas 96 notícias relacionados à raça/racismo distribuídos em 89 arquivos, dentre elas 44 foram categorizadas como Criminalização/Estereotipização do negro. Corrobora-se o que é discutido na literatura, em que as ideias racializadoras surgem atreladas à discursos psicológicos, morais, médico e criminais, tendo como uma das grandes referências os escritos de Nina Rodrigues. Outro aspecto evidenciado pelos resultados obtidos é destinação de um lugar de outridade ao negro, em que essa outridade estereotipada configura-se como fora do centro, portadora de características negativizadas que a diferencia deste centro branco. Espera-se, com essa análise, contribuir para o diálogo entre os campos da Psicologia Social e da Historiografia, a partir da discussão crítica das representações do racismo nos jornais feirenses. Destaca-se a importância do diálogo de saberes ao lidar com questões de grande complexidade, como é a questão do racismo no Brasil, e como, ao mesmo tempo, este diálogo figura como desafio para a pesquisa, especialmente entre Psicologia e História, algo ainda pouco comum. Nessa perspectiva, os objetos escolhidos configuraram também um desafio, dado a quantidade de arquivos a serem analisados, problemática que foi mediada através do uso das diversas tecnologias (computador, celular, kindle), que foram utilizadas de modo a atender a demanda de cada momento, assim, foi possível otimizar o tempo de leitura e análise desses objetos. Por se tratar de pesquisa de cunho historiográfico, proporcionou grande aprendizado acerca da forma como a história do país, e do mundo, estão diretamente relacionados com a nossa prática profissional. Assim, ressalta-se como um dos resultados desse trabalho, a possibilidade de compartilhar esses saberes com profissionais e estudantes de Psicologia, de modo especial, compartilhar o uso dos jornais como possibilidade metodológica, de modo a salientar para o grande rol de possibilidades de ação e pesquisa que a Psicologia dispõe. O uso dos jornais também pode ser visto como uma concretude para a compreensão do racismo e das ideias psicológicas nele perpassado, considerando sempre a historicidade do racismo enquanto fenômeno social.
Palavras-chave: Racismo; Psicologia Social; História.