Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Mayara Ruth Nishiyama Soares, Raimundo Cirilo de Sousa Neto
Resumo: O projeto Ôrí - Grupo de Estudos Decoloniais está vinculado ao Eixo de Estudos Decoloniais do Programa de Educação Tutorial (PET-PSICOLOGIA) da Universidade Federal do Ceará, sendo um da série de grupos de estudos ocorrendo em 2021 com temáticas decoloniais e étnico-raciais. Entendemos que compreensão e a análise crítica do contexto social e a maneira como ele afeta a vida das pessoas apresentam-se como partes importantes na (de)formação de uma Psicologia socialmente implicada, logo, se faz importante abrir as possibilidades epistemológicas para autores fora dos cânones e das hegemonias raciais, geográficas e de gênero que dominam a produção de conhecimento em Psicologia. Somos inscrites/inscritas/inscritos em uma sociedade baseada numa governamentalidade colonialista que se reatualiza em diversas instituições, promovendo desigualdades, assujeitamento e violências, inclusive epistêmicas. Com os estudos decoloniais vislumbramos possibilidades de interromper esses ciclos de violências. Sabemos que os processos de adoecimento psíquicos são fortemente influenciados por inúmeros fatores sociais, como o racismo, o sexismo e a desigualdade social. Apenas a partir de um olhar epistêmico politicamente comprometido, conseguiremos promover práticas libertárias, éticas e responsáveis em nossas atuações e pesquisas. Dessa forma, buscamos a partir dos estudos e escritos de pensadoras negras, tensionar os saberes e perspectivas tradicionais de produção de conhecimento em Psicologia. Além de fomentar o debate antirracista, antisexista e anticolonial dentro do curso de Psicologia, tensionando esse campo de saber hegemonicamente branco e eurocêntrico; e por fim, provocar reflexões sociais pertinentes que tranformem nossas práticas e teorias no sentido de uma descolonização das mesmas; instigando a produção de uma Psicologia antirracista e compromissada com a tranformação racial, principalmente no que diz respeito às desigualdades de raça, gênero e classe, a partir da sensibilidade analítica da Interseccionalidade. O grupo de estudos ocorreu em formato online, devido às medidas de isolamento social pela pandemia do Covid- 19, utilizamos como estratégias metodológicas, a leitura prévia dos textos, a mediação durante os encontros, e o incentivo ao resgate de intercessores a partir das intensidades e afetos produzidos durante as leituras, possibilitando anexar o novo, o outro para além de leituras acadêmicas e circular os escos e as falas. Foram um total de 11 encontros, ocorridos nos meses de janeiro a março do ano de 2021. Além do estudo a epistemologias outras, o grupo possibilitou a construção de um lugar de circulação de afetos e conhecimentos que destoam da hegemonia acadêmica. Além disso, consideramos importante, a partir de todos esses aspectos abordados, pensar nessa prática de educação em tempos obscuros de pandemia por Covid-19. (De)formar uma Psicologia Social é estar atento e sensível ao contemporâneo, que questões se fazem (im)pertinentes nesse contexto que fomos inserides/inseridas/inseridos? Que modos de subjetivação são produzidos e atravessados por esse contexto? Como sustentar espaços de ensino-aprendizagem em tempos em que nossas corpas se encontram em meio a caos e morte? Essas perguntas não trazem respostas, experimentar esse espaço foi para além de tudo político, foi uma recusa e uma linha de fuga à normatividade hegemônica colonial, racista, misógina e cisheteronormativa. Assim, ir de rumo a essa Psicologia é compormos isso enquanto máquinas de guerra, fazer educação em tempos sombrios onde nossos corpos não aguentam mais, é ainda um processo de aquilombamento. Mesmo na ausência do chão da universidade, a sala de aula virtual foi um espaço além de compartilhamento de saberes e vivências, como também, partilha de cuidado e rede entre (nós), produzindo modos de existências possíveis, encontros, afetos e respiros. Forjamos de forma micropolítica e coletiva condições e estratégias possíveis para encontrar potência em meio a morte e caos, fazer brotar vida no asfalto quente, ficcionar a partir da imaginação política e revolucionária um mundo por vir, um mundo que não só nos caiba, mas um mundo em que possemos viver. Assim, Ôri foi um potente passeio pelo pensamento de intelectuais negras, chicanas, africanas e latinas. Pensadoras - sistematicamente excluídas e silenciadas pelas hegemonias acadêmicas - que propõem análises inovadoras acerca da realidade que construímos e vivemos, questionando e minorando radicalmente pressupostos racistas, sexistas e coloniais, propondo verdadeiras encruzilhadas teóricas e epistemológicas que contestam o esquadrinhamento analítico de nossas corpas. Ôrí foi/é um espaço-tempo contra hegemônico de conhecimento. Ôrí foi/é um respiro ancestral, um sopro desestabilizante, criador, terno, radical.
Palavras-chave: Decolonialidade; Interseccionalidade; Feminismos.