Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Alina Mira Maria Coriolano
Resumo: A partir da experiência em um componente curricular na pós-graduação, surge a proposta de refletir sobre a posição de pesquisadora considerando o conceito de colonialidade do saber. Através das palavras de Ballestrin (2013), a produção do conhecimento é corporificada: homem, heterossexual, branco, patriarcal, cristão, capitalista e europeu. Tomando isto em consideração, que pesquisadoras somos? No que diz respeito às mulheres e a produção do conhecimento, há uma íntima relação com os papéis sociais atribuídos e a expectativa de confirmação destes. Ainda que trabalhando em casa ou fora dela, bem se sabe que costumeiramente as atividades domésticas tendem a ser de responsabilidade das mulheres. Para além disso, o trabalho, nas suas mais diversas formas, parece sempre surgir para as mulheres em contraposição a família: seja pela diminuição do tempo com esta, que deveria ser o centro de sua vida, seja na ausência desta vista como problemática. Na vida das mulheres pesquisadoras isto também é percebido. Um exemplo do impacto da constituição familiar para mulheres pesquisadoras é a luta antiga e a conquista recentíssima do simples registro da licença maternidade na Plataforma Lattes. Apesar de soar simples, a ausência deste registro interfere na carreira através dos indicadores de produção científica e na concessão de bolsas de pesquisa. A inserção da mulher como pesquisadora também é impactada pela área do conhecimento a qual estão vinculadas. Tradicionalmente, a mulher está ligada ao cuidado e estas tendem a ocupar majoritariamente os campos de saúde e ensino de crianças. Por outro lado, quando estão vinculadas às ciências naturais e exatas tendem a encontrar ainda mais dificuldades para entrada e permanência nestes espaços. Ao falar sobre gênero é importante ressaltar ainda que existem diferentes aspectos a serem considerados entre mulheres cisgênero e transgênero. O desrespeito e a discriminação que pessoas transgênero vivenciam no sistema formal de ensino repercutem na trajetória educacional (Natal-Neto et al.,2016). Santos (2007) argumenta que as pesquisadoras que conseguem ser reconhecidas são mulheres cisgênero, brancas, heterossexuais e de classe média. Acerca da raça, Vinhas (2020) descreve as estratégias utilizadas para silenciamento de pesquisadores negros e negras, dentre estas a desqualificação do trabalho e a crença na (in)capacidade intelectual de pessoas negras. O autor argumenta ainda que dentro deste processo as pesquisadoras negras sofrem ainda mais devido a estrutura sexista e patriarcal existente. As produções em outras línguas e a partir de outras culturas foram negadas e subalternizadas. Não somente o conhecimento como também a história e a cultura de povos enfrentaram e ainda enfrentam apagamento. Muitas são as possibilidades de discussão a partir da colonialidade do saber e de nossa posição como pesquisadoras. Pensemos também não somente sobre o Norte e o Sul Global, mas também sobre o Norte e Sul Brasileiro: tomemos nossa inserção no Brasil como parte do debate. Porto-Gonçalves (2005, p. 3) descreve: No Brasil, há o nordestino, o sulista e o nortista, mas não há o sudestino, nem o centro-oestista. Afinal, o sudeste é o centro e, como tal, não é parte. É o todo! E a melhor dominação, sabemos, é aquela que, naturalizada, não aparece como tal. Num país com grande desigualdade social, o eixo Norte-Nordeste e o eixo Sul-Sudeste seguem de maneira similar uma relação de colonialidade: através da hegemonia e subalternização. Ressalta-se, por fim, que não se trata da invalidação da produção científica de outros, mas do reconhecimento da necessidade de produção própria. E, mais do que isto, de realizarmos nossas produções a partir do reconhecimento da diferença e da nossa realidade.
Palavras-chave: Colonialidade do saber; Mulheres cientistas; Ciência e gênero.