Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Eriel Euller Messias Alves, Hélton Walner Souto Santos
Resumo: Sem dúvidas o processo de formação em Psicologia Social é atravessado por interlocuções entre distintos saberes e diferentes campos. Horizontalizar e emancipar os saberes e os campos é um exercício cotidiano de experimentação e crítica. Esse exercício, portanto, deve ser encarado ética e epistemologicamente na atuação dos/das profissionais que pretendem fazer de sua prática o incentivo à diversidade e pluralidade de identidades e coletividades, não seu apagamento e anulação. É a partir desse cenário que o presente trabalho resgata a experiência discente com um grupo de mulheres idosas do Espaço Cultural Locutor Marreco durante as atividades desenvolvidas pelo Programa de Educação pelo Trabalho (PET-Saúde/UFAL) com as unidades básicas de saúde (UBS) da cidade de Maceió AL. De modo particular, esse resgate se norteia pela inquietante observação de que a saúde mental extrapola os sentidos normativos e institucionalizados dos programas e se apresenta, em sua íntima relação com o que há de social da psicologia, como produção comunitária de novas configurações da experiência sensível e, portanto, como produção e transformação política da realidade local. Nesse sentido, a saúde mental diz respeito não ao produto das intervenções psicológicas, mas, aquém disso, compreende uma categoria analítica que permite visibilizar a constituição de cenas dissensuais na organização e disposição dos territórios à ocupação. Seguindo esse entendimento, o conjunto de atividades desenvolvido pelo grupo de mulheres do Espaço Cultural Locutor Marreco reflete isso muito bem. São mulheres idosas, trabalhadoras ou aposentadas, moradoras de regiões periféricas em relação ao centro urbano da cidade (e ao desenvolvimento de políticas públicas que disso decorre), que mobilizam saberes fronteiriços em relação ao saber acadêmico científico, e que se utilizam dessa singularidade para produzir saúde coletiva e territorialmente. Atuam em parceria com sua UBS de referência e desenvolvem atividades de socialização, promoção de saúde e bem-estar, atividades físicas e de lazer, como dança, oficinas de crochê, oficinas de fotografia etc. O espaço utilizado foi cedido por uma antiga moradora que é artesã e confecciona estátuas de barro, decoração de plantas e quadros motivacionais. Todas as atividades são planejadas em cronogramas acordados entre elas seguindo um modelo de autogestão. A escolha por vivenciar a produção de saúde mental com esse grupo se deu justamente pelo caráter autônomo e emancipatório com que essas mulheres se organizam e atuam na comunidade. Abandonando uma perspectiva intervencional tradicional da psicologia, vale aqui uma reflexão: o que fazer em espaços autônomos e auto-organizados como esse sem recorrer a posturas colonizadoras dos saberes? Ter proposto a inclusão de temáticas em saúde mental para as reuniões do grupo mobilizaram novas experiências e potencializaram a emergência de enfrentamentos às ocorrências comunitárias. Assim, foi possível visualizar a emergência dessas mulheres como sujeitos políticos capazes de mobilizar transformações em sua realidade local. Por fim, a proposta das oficinas e rodas de conversa sobre saúde mental tiveram o potencial de desestabilizar as maneiras de ser usuário e sujeito no sistema de saúde dentro do território. Essa experiência apontou para uma inversão das lógicas de cuidado e promoção em saúde e em saúde mental. A partilha e horizontalização dos saberes na distribuição e ocupação dos lugares de fala e na definição dos campos de disputa podem impulsionar atuações menos prescritivas e institucionalizadas e abrir espaço para uma saúde mental que se faz comunitária e cotidianamente.
Palavras-chave: Saúde mental; Sujeito político; Psicologia social.