Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Adenilda Alves da Silva, Thamires Silva da Cruz, Emanoelly Tainá da Silva, Anna Júlia Giurizatto Medeiros
Resumo: O gênero, como elemento constitutivo das relações sociais, está presente nos diversos espaços e práticas sociais. Nas escolas, embora sejam instituições consideradas importantes para redução das desigualdades, as hierarquias de gênero são produzidas e reproduzidas no seu cotidiano. No contexto atual brasileiro, marcado pelo fortalecimento dos movimentos e políticas conservadoras, há um recrudescimento das práticas voltadas a silenciar o debate de gênero na educação, o que indica ainda maior relevância ao tema. Partindo das inquietações em torno da realidade política atual e dos resultados de uma pesquisa realizada, este trabalho propõe compreender como são produzidas e reproduzidas as concepções de gênero no IFAL - Campus Murici e destacar possibilidades de enfrentamento das desigualdades de gênero através dos potenciais apresentados nessa instituição escolar. A pesquisa de Iniciação Científica foi realizada no ciclo de 2016-2017 e teve como instrumento para coleta de dados grupos focais com as/os estudantes e entrevistas semiestruturadas com as/os servidoras/es, partindo da perspectiva da metodologia qualitativa. As dificuldades para execução da pesquisa ocorreram em função da mudança nos procedimentos metodológicos em decorrência da ocupação das/os estudantes no campus durante o processo de luta política contra a Emenda à Constituição 95, que estabeleceu limites nos investimentos públicos por 20 anos. Com isto, foi reduzida a quantidade de encontros dos grupos focais, optando-se por realizar os grupos com estudantes apenas do período matutino. Após a coleta de dados com estudantes e servidoras/es, para a interpretação e análise, de acordo com os temas apresentados nos encontros, os dados foram decompostos nas categorias: a) Identidades e papéis sociais; b) naturalização; c) silenciamento; d) tensionamentos e resistências. Em todo o processo, foi considerado o caráter histórico e político do conceito de gênero e sua relação com raça e classe social. As categorias foram analisadas e relacionadas entre si para serem interpretadas à luz do debate de gênero e relação de poder de Michel Foucault, assim como o debate de gênero e educação da autora Guacira Lopes Louro. Os resultados da pesquisa mostram que tanto estudantes como servidoras/es do IFAL reproduzem em suas identidades concepções de gênero estereotipadas e apresentam expectativas semelhantes em relação aos demais membros da escola, com destaque ao impacto negativo das expectativas das/os professoras/es em relação às estudantes mulheres, pois esperam que as meninas sejam mais organizadas que os meninos e que tenham menos disponibilidade para participar das atividades físicas competitivas. Também foi evidente o estigma atribuído às/aos estudantes e docentes que não se encaixam no modelo instituído, principalmente no que se refere à sexualidade. A naturalização dessas situações ocorre, em grande medida, por concepções partilhadas de que as diferenças são tidas como questões biológicas. Com isso, as diferenças instituídas são silenciadas ou inferiorizadas. As brincadeiras e piadas assumem a função de conformar esses lugares, sendo realizadas também por docentes em sala de aula, com conotações sexistas, racistas e homofóbicas. A referência às práticas excludentes, tanto nas entrevistas como nos grupos focais, foi permeada por muitas negativas quanto a sua existência na escola, bem como por muitos períodos de silencio, sendo o silencio visto como uma maneira de evitar conflito. Importante destacar que, embora produza/reproduza as hierarquias da sociedade, o IFAL Murici é marcado por práticas de resistência muito significativas, protagonizadas principalmente pelo Grupo de Feminismo, Gênero e Diversidade, que é um grupo de Trabalho realizado pela equipe multiprofissional de assistência estudantil em conjunto com estudantes e professores. Foram relatados importantes mudanças em práticas excludentes na escola em decorrência de atividades desenvolvidas por este Grupo. Intervenções pontuais de professoras/es em sala de aula e práticas e expressões críticas aos padrões instituídos por parte das/os estudantes também revelaram potencial para subversão do modelo instituído e construção de relações mais igualitárias acerca dos gêneros, raça e classe na escola. Alguns caminhos já produzidos pelo IFAL Murici em prol do questionamento dos modelos instituídos estão postos. Em contrapartida, ainda há pressupostos voltados à manutenção das opressões que dificultam a subversão desta lógica. A acentuação das expressões de violência vivida na conjuntura atual, materializada pela opressão ao debate de gênero, raça e classe em decorrência do avanço do projeto e campanha de Escola Sem Partido e das mudanças estruturais do Parâmetros Curriculares Nacionais para a Base Nacional Comum Curricular, demanda unir forças em prol dos movimentos e práticas voltadas à luta por igualdade. O fortalecimento do Grupo de Feminismo, Gênero e Diversidade do IFAL Murici parece ser um caminho promissor para atender a esta necessidade, oportunizando a produção de tensionamentos e fissuras na lógica hegemônica que produz desigualdades. Assim, entendemos que este trabalho pode contribuir com o debate proposto no Eixo Temático 5 Feminismos, estudos sobre masculinidades e estudos queer, por corroborar com o debate sobre gênero, raça e classe, diante da ofensiva conservadora que vivenciamos nos últimos anos.
Palavras-chave: Desigualdades; escola; gênero.