Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Caroline Borges Mendes
Resumo: Este trabalho apresenta as reflexões elaboradas no trabalho de conclusão de curso intitulado Triste, louca e má: a representação das mulheres entre a exploração e a dominação, apresentado no curso de Graduação em Licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. No referido trabalho, objetivou-se refletir sobre a figura da mulher e o papel social atribuído a ela na sociedade capitalista e patriarcal, sendo o último termo, nesta pesquisa, utilizado como um sistema, não determinante, contextualizado e que abrange a dominação e exploração de mulheres. Dessa forma, questiona-se o fato de terem sido historicamente delegadas tão poucas, restritas e limitadas identidades às mulheres, que as colocam em uma posição de subjugação. As mulheres foram e continuam sendo Evas, loucas, más, perigosas, bruxas, Marias, santas, recatadas, belas e do lar. A depender de sua personificação, pautada em transgredir ou acatar as receitas e normas culturais, políticas e sociais, a mulher é vista e encarada de uma forma cerceada. Considera-se, então, por meio dessa perspectiva, que uma lógica machista sustenta uma estrutura social que violenta, explora, domina, estupra e mata mulheres, principalmente mulheres negras, possibilitando lucro e mantendo, sobretudo, homens brancos no poder. Posto isso, o trabalho foi desenvolvido mediante uma pesquisa teórica e qualitativa do tipo bibliográfica que se respalda em estudos, artigos e obras que problematizam a naturalização da subjugação da mulher, a partir do controle de seu corpo e de seu potencial reprodutivo. A pesquisa qualitativa tem o intuito de tentar responder questões que não podem ser quantificadas e que abrangem demandas e processos de caráter mais profundos, ligados, por exemplo, às relações humanas, estruturas e instituições sociais. As principais fontes para a construção do trabalho se fundamentaram em algumas autoras, tais como, Heleieth Iara Bongiovani Saffioti (1985, 2001, 2011); Silvia Federici (2017, 2019); Silvia Alexim Nunes (2000). Ao longo do trabalho, discutiu-se sobre a naturalização dos papéis sociais atribuídos às mulheres na sociedade patriarcal e as influências do sistema capitalista na dominação, exploração e subjugação delas, levando em consideração os campos: ideológico, político e econômico, sobretudo, via esfera do trabalho. Refletiu-se sobre como o campo da sexualidade e da moralidade se manifestam no papel social atribuído às mulheres, discutindo sobre o uso do controle do seu corpo para limitá-las ao campo da esfera doméstica e da maternidade/esfera da reprodução, compreendendo como o papel social das mulheres na esfera do trabalho está relacionado a esses aspectos. Discorreu-se sobre como, historicamente, algumas imagens sobre as mulheres foram construídas, naturalizadas e manipuladas para servir a interesses conservadores e machistas de uma classe dominante, tanto para contribuir com a manutenção de uma lógica patriarcal, quanto para controlar a população. Dessa forma, a mulher é vista desde um ser diabólico, perigoso, mau, incompleto e inferior até um ser santo, passivo, obediente e destinado a ser mãe e esposa. Discutiu-se, também, sobre de que forma a passagem do feudalismo para o capitalismo, e a constituição deste último, influenciou a elaboração do fenômeno da caça às bruxas, relacionado a outra forma de controle sobre as mulheres. Na esteira desse processo, refletiu-se sobre a violência no período contemporâneo, que embora constituída historicamente, com o mesmo objetivo de oprimir e subjugar a mulher, apresenta-se em uma nova roupagem, sendo inclusive intensificada em momentos de crise, como por exemplo, no caso da pandemia do vírus SARS-CoV-2, que ocasiona a doença Covid-19. A título de considerações finais, a partir do estudo realizado, observou-se indícios de que o controle do corpo das mulheres e de seu potencial reprodutivo manifestado pelo papel social construído relacionado à maternidade e à esfera doméstica, contribui para a consolidação e manutenção do capitalismo, assim como, para a obtenção de lucro por meio do trabalho invisibilizado das mulheres na esfera doméstica e como preparadora da mão de obra trabalhadora. Isso, por óbvio, a leva ao enclausuramento da esfera privada e acaba dificultando ações de luta e resistência. Por fim, a música Triste, louca ou má, canção da compositora, cantora e percussionista Juliana Strassacapa, que se faz presente no título do trabalho de conclusão de curso reelaborado como Triste, louca e má , nos possibilita pensar e refletir sobre os novos e velhos papéis atribuídos às mulheres, que assim como no período da caça às bruxas, na atual sociedade contemporânea, continuam oprimindo, controlando, enquadrando, classificando, condenando, agredindo e violentando mulheres. Mediante o exposto, julga-se que a temática abordada no trabalho está em consonância com a temática do evento.
Palavras-chave: Divisão sexual do trabalho; Trabalho produtivo/reprodutivo; Naturalização da opressão.