Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Barbara Santana Ribeiro
Resumo: O Brasil atual se figura por um cenário de crise em diversos setores, que já vinha se desenrolando pelos últimos anos, a partir de dificuldades econômicas e tensões políticas, o que se agravou ainda mais com a crise sanitária da COVID-19. Pensar tal cenário implica perceber que alguns grupos sociais foram afetados de forma mais severa, atingidos em diferentes aspectos de sua vida, sendo o trabalho um dos mais evidentes, por estar diretamente ligado à renda e, consequentemente, a condições básicas de sobrevivência. Mulheres e negros são dois exemplos emblemáticos quando se pensa esse aspecto, já que, mesmo em condições ditas normais, encontravam-se nas posições mais precarizadas do mercado de trabalho ou nem mesmo chegam a ocupar vagas no mescado formal. Dados de 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as mulheres eram minoria das pessoas ocupadas e em 2018, segundo o mesmo instituto, ganhavam os menores salários, quando comparadas com os homens. Elas são também as que trabalham por mais horas. Já quando se considera o grupo racial, as pessoas negras foram também identificadas como a maior parte do grupo de pessoas desocupadas e, quando inseridas no mercado de trabalho, recebendo os menores salários. A que constatação chegaríamos se cruzássemos tais dados? As mulheres negras estão à frente de todos os grupos quando se trata de taxa de desemprego e, quando inseridas no mercado de trabalho, experimentam as relações mais precárias. Isso talvez explique porque elas são também o segmento mais pobre da população. Foi a partir de tais questionamentos que estruturou-se uma revisão bibliográfica, como proposta de Trabalho de Conclusão de Curso na graduação em psicologia. O trabalho foi realizado em 2019, o que permite que outras reflexões sejam adicionadas quando se pensa o cenário atual. Assim, propõe-se tecer discussões que permitam refletir sobre quais variáveis convergem para que as mulheres negras ocupem os espaços que têm ocupado no mercado de trabalho e como sua situação se agrava em momentos de crise. Faz-se necessário pontuar que elas carregam duas características-chave, uma é o fato de serem do gênero feminino, a outra, o de serem negras. Propõe-se alguns pontos de base para a discussão: refletir sobre os conceitos de raça e racismo, sob a perspectiva do racismo estrutural no Brasil; compreender como se estrutura a desigualdade de gênero na sociedade brasileira; examinar a divisão de classes e os critérios que a definem; analisar a intersecção dos aspectos gênero, raça e classe em sua relação com a desigualdade no mercado de trabalho. No processo de construção do estudo algumas dificuldades foram encontradas. Primeiro, foi difícil encontrar materiais que articulassem raça, classe e gênero na mesma discussão, sendo necessário ler separadamente para traçar as relações existentes de forma consistente. Outro ponto que pode ser considerado como um obstáculo, foi a pouca discussão sobre tais temas dentro das disciplinas gerais durante a formação em Psicologia, o que resultou em dificuldade quanto ao estabelecimento de uma base teórica. O texto foi dividido em partes que dariam conta de trabalhar cada temática separadamente, até atingir um apanhado geral de tudo o que deveria ser levado em consideração nesta discussão. O primeiro passo foi compreender como o racismo se apresenta a partir de uma condição estruturante da sociedade em questão. Na segunda parte, buscou-se entender como se estrutura a desigualdade de gênero. Na terceira parte, fez-se necessário analisar a estrutura de classes sociais, que está diretamente ligada aos dois aspectos abordados anteriormente. Por último, articulou-se os aspectos raça, gênero e classe numa discussão, com atenção para estudos desenvolvidos por feministas negras, com o objetivo de desvelar como os três aspectos se relacionam e fazem com que as mulheres negras ocupem espaços de trabalho nas condições mais precárias, sofram preconceito e assédio desde a contratação e ganhem os menores salários. Entende-se, dessa maneira, que é imprescindível que se façam análises interseccionais quando se fala sobre qualquer experiência, já que os sujeitos estão imersos em realidades sociais nas quais são vistos a partir de vários marcadores, o que lhes localiza em diversos grupos e moldam as suas experiências enquanto sujeitos sociais.
Palavras-chave: Racismo; Sexismo; Trabalho.