Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Raimundo Cirilo de Sousa Neto, Carla Jéssica de Araújo Gomes, Gabriella Celestino Lemos Furtado Gondim, Milena Araújo Bezerra, João Paulo Pereira Barros
Resumo: Iniciado em 2016, o Histórias Desmedidas é um projeto de extensão vinculado ao Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violências, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES), ligado ao Departamento de Psicologia e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia, ambos da Universidade Federal do Ceará (UFC). O surgimento do projeto se deu em um contexto de colapso do sistema socioeducativo cearense, com diversas denúncias de violações de direitos e tortura dentro do sistema, e de alarmante crescimento da criminalização e do extermínio da população juvenil do estado. O projeto orientou-se, em seus primeiros anos, por 2 eixos: construir coletivamente espaços de discussão com jovens em cumprimento de medida socioeducativa acerca de suas trajetórias e perspectivas de vida, através da abordagem de temáticas ligadas à condição juvenil na contemporaneidade e ao campo dos direitos humanos; e contribuir com o monitoramento do sistema socioeducativo local realizado por organizações da sociedade civil ou pelo sistema de justiça, incidindo técnica e politicamente no campo da defesa dos direitos das juventudes em Fortaleza. Nos primeiros dois anos, referente ao primeiro eixo, foram realizadas oficinas temáticas com jovens em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto, além do acompanhamento do Plano Individual de Atendimento (PIA); já no segundo eixo, o projeto colaborou com o quarto monitoramento do sistema socioeducativo do Ceará por meio do Fórum de Defesa da Criança e do Adolescente (Fórum DCA). Já em 2018 e 2019, o projeto dedicou-se à expansão das oficinas temáticas, desta vez em parceria com o Laboratório de Estudos sobre a Violência (LEV), apostando no dispositivo-arte como proposta ético-estético-política; e também deu continuidade ao trabalho de colaboração com o monitoramento do sistema socioeducativo, compondo também a equipe de monitoramento do sistema prisional voltado ao sexo feminino. Desde 2020, entretanto, o projeto ampliou significativamente seu escopo e suas ações, pois a ele se fundiram dois outros projetos de extensão, a saber: Re-Tratos da Juventude e Entretantos. O projeto segue se direcionando a sujeitos e grupos em condições de desigualdades e mais submetidos à seletividade racial, social e de gênero dos dispositivos punitivos, inseridos em contextos periferizados, marcados por violências, por lutas pela garantia de direitos e por condições de sociabilidade que lhes confiram reconhecimento social e simbólico. Sua ideia principal tem sido potencializar a produção de práticas de re-existência de sujeitos e grupos periferizados frente às políticas contemporâneas e neocoloniais de produção da morte, apagamento simbólico, estigmatização, precarização desigual da vida e maximização punitiva. Para tanto, tem como questões transversais às problemáticas da produção narrativa e das políticas de memória como práticas de resistência e de transformação nos modos de subjetivação. Metodologicamente, o projeto funciona a partir de 4 frentes de ação: 1) Criação de dispositivos de escuta, apoio psicossocial e cuidado compartilhado em saúde mental com sujeitos em condições de violência para reelaboração subjetiva e social de suas trajetórias e perspectivas de vida; 2) Criação de dispositivos estéticos, tais como vídeos, mini documentários ou outras produções artísticas, que potencializem narrativas de re-existência frente às diversas formas de violência em diálogo com sujeitos e grupos em condições de desigualdades, inseridos em periferias de Fortaleza; 3) Participação da equipe de extensão em espaços de articulação de movimentos sociais, coletivos e organizações da sociedade civil para colaborar tanto no monitoramento de políticas públicas quanto na criação de ações de autogestão comunitária em periferias de Fortaleza; 4) Promoção de atividades formativas para grupos acadêmicos e não acadêmicos sobre temas pertinentes à proposta do projeto, tais como lives, grupos de estudo, mesas e seminários, salas virtuais e cursos. Tais experiências de extensão, em articulação com a pesquisa-inter(in)venção, dão-nos pistas sobre possibilidades de formação em Psicologia Social orientadas por princípios como a transdisciplinaridade, participação social ativa, indissociabilidade entre teoria e prática e a valorização e potencialização dos saberes e produções locais e periféricas. De tal forma, busca-se experimentar a invenção de dispositivos clínico-político, educacionais, estéticos, metodológicos e formativos que provoquem interferências e variações entre áreas e disciplinas antes estabelecidas em direção à uma postura ética de defesa da vida e dos direitos humanos.
Palavras-chave: Psicologia Social; Extensão; Formação em Psicologia.