Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Willamys da Costa Melo, Lia Vainer Schucman
Resumo: Qual a lógica que rege o fato de que em um país em que 54% da população se declare negra os lugares de poder estejam ocupados em quase sua totalidade por pessoas brancas? Que mecanismos ideológicos estão em jogo para assegurar aos brancos a ocupação de posições mais altas na hierarquia social, sem que isso seja encarado como privilégio racial? Quais as crenças e discursos que sujeitos brancos produzem e reproduzem para que sejam beneficiados na estrutura social e ao mesmo tempo se desresponsabilizem e se isentem dos problemas advindos da injustiça social que afetam aos negros e indígenas em nosso país? Imaginemos aqui uma cena hipotética, ao entrarmos em uma reunião do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo e de repente perguntássemos aos/as professores/as: como você chegou até aqui? Que respostas você leitor/a acredita que poderia ouvir? Estudei muito, Tive uma boa formação e me esforcei, Sempre quis ser professor da USP então lutei muito para isso e tantas outras que associasse as qualidades individuais dos indivíduos em questão. Quantas respostas poderíamos ouvir associadas ao fato de que estes professores são brancos e isso facilitou a inserção destes sujeitos nos postos mais altos da carreira universitária? Este trabalho é uma parcela inicial de uma pesquisa de mestrado. Aqui, nossa finalidade é tensionar a supremacia branca à brasileira construída sob a égide do racismo, por meio da ideia de mérito e do mito da democracia racial. Como se trata de uma pesquisa iniciante, ainda estamos nos construindo teoricamente no campo dos Estudos Críticos da Branquitude (CWS) e tecendo breves reflexões com base nos veículos de comunicação eletrônicos. "Meritocracia, para quem é? Bem, por enquanto, parece que não é para todos" (VELEZ, 2018, p. 164, tradução nossa). No discurso brasileiro, mérito e racismo andam lado a lado. Em outras palavras: "No Brasil, a negação do racismo e a ideologia da democracia racial sustentam-se pelo discurso da meritocracia" (ALMEIDA, 2019, p. 52). A meritocracia baseada na ideia de sucesso individual se retroalimenta desse sistema vigente. Dessa maneira, a meritocracia neoliberal ocasionou esse ser humano responsável exclusivamente pelo seu próprio produto, um oceano sem fim de competitividade (VIANA; SILVA, 2018). Assim, passamos a responder pelo nosso próprio declínio ou ascensão. Nesse sentido, a branquitude é o resultado da dominação colonial europeia e precisa ser entendida em âmbito global, alimentando cada vez mais a ideologia de supremacia branca em todos os países (FRANKENBERG, 1995). Portanto, segundo Laborne (2017, p. 80): "(...) a branquitude funcionaria como privilégio racial sustentando a chamada supremacia branca, responsável pela dominação de outros grupos raciais". Logo, entendemos que a supremacia branca se trata da exploração e da ideia de superioridade racial das relações cotidianas, privilegiando apenas as pessoas de seu grupo racial em detrimento de todos os demais, acarretando assim em ganhos materiais e simbólicos para esse seleto grupo (ALMEIDA, 2019). A noção de privilégio branco reverbera nas relações cotidianas, ou seja, a pessoa reconhecida como branca começa a usufruir de ganhos por meio dessa brancura. Vamos pensar, alguém branco já foi perseguido dentro de um shopping por ser confundido com um ladrão? Quantas pessoas brancas vocês veem paradas diariamente numa abordagem policial no meio da rua? Você já presenciou alguma pessoa branca sendo rechaçada e humilhada em virtude de sua cor? Privilégio branco é você ser bem recebido/a em todos os espaços só por ser branco/a. Como afirma Zeus Leonardo: "O privilégio é concedido mesmo sem a (re)cognição de um sujeito que a vida é um pouco mais fácil para ela. O privilégio também é concedido apesar da tentativa do sujeito de se desentificar com a raça branca" (2004, p. 137, tradução nossa). A hegemonia racial branca foi e está sendo constituída o tempo todo, por meio de atos do setor político, econômico, judiciário, educacional, entre outros setores, como medidas que visem beneficiar injustamente pessoas de cor branca em detrimento de pessoas não brancas (LEONARDO, 2004). Pessoas brancas são racistas que asseguram privilégios raciais com base no racismo e manipulam a supremacia branca em todas as esferas sociais. Vejamos alguns dados: Em pleno 2021, de acordo com o jornal O Globo, dos 228 militares do alto escalão da força aérea apenas 3 se consideram pretos; não obstante, uma matéria da Folha mostra que de 2012 em diante, na lista da Forbes, todas as pessoas que figuram como bilionárias são brancas, em sua homogeneidade homens, e que faz girar em torno delas todo o capital adquirido: "(...) a dominação branca nunca é resolvida de uma vez por todas; é constantemente restabelecida e reconstruída por brancos em todas as esferas da vida" (LEONARDO, 2004, p. 143, tradução nossa). Resultando, o controle total da vida e da morte nas mãos de pessoas brancas.
Palavras-chave: Supremacia branca; Branquitude; Racismo,