Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Maria Quitéria Castro de Brito
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo, compreender de forma crítica como se dava a percepção acerca dos sentidos da colonização e as consequências da mesma para formação de sua história, partindo da perspectiva da história de vida de uma descendente de mulher indígena que foi retirada de sua tribo e colonizada. A constituição da sociedade brasileira se moldou, atrelada ao processo da ideia civilizadora do ocidente, sendo essa compreendida como o período mais avançado das civilizações, se comparada a outros modelos de sociedade. Essa percepção trouxe consigo a concepção idealizada do corpo e uma delimitação de espaços específicos para essas civilidades. Ferreira e Hamlin (2010, p. 815). Ora, se havia uma concepção idealizada de um corpo no mundo, havia também a concepção do que seria um corpo não civilizado. Nos relatos subsequentes acerca do novo mundo, os indígenas eram identificados como gentios em outras palavras pagãos, que tinham potencial de ser tornarem cristãos e que só poderiam o alcança-lo por meio do trabalho, validando dessa forma pela igreja a dominação desses povos, negros da terra (índios escravizados) e índios (índios aldeados). (Cunha, 1993). Ou em contrapartida seres que eram inferiores nos costumes ou modo de se organizarem, dessa forma, não poderiam ser cristãos, restando assim serem escravizados ou mortos. Nesse sentido, o colonialismo, sendo validado e naturalizado como um meio de civilizar territórios indígenas, é compreendido como uma relação de dominação direta, política, social e cultural, sendo um processo que contribuiu estruturalmente na construção da nossa atual sociedade. Partindo desse aspecto a colonialidade se diferencia do colonialismo pois, seria a permanência ainda hoje, dos valores coloniais, sendo assim continuidade da estrutura do poder colonial, concretizando segundo Quijano (1992), como colonialidade do poder, do saber e do ser. Como métodos adotados para auxiliar na confecção do trabalho foi feita revisão bibliográfica 1999-2019 e entrevista utilizando-se do método de história de vida, que amplia a possibilidade de inventar novos modos de ser no mundo, a partir do vivido e do encontro com o outro. (NOGUEIRA, BARROS, ARAUJO e PIMENTA, 2017). Há um quê de terapêutica nessa metodologia, no sentido qual as histórias de vida podem possibilitar espaço para novas interpretações e elaborações daquilo que outrora foi vivido, recriando, relendo e ressignificando essas experiências. Tornando o sujeito que em outros métodos seria limitado a objeto de estudo, ativo dentro desse processo. Depois da construção do material, houve uma transcrição analítica do que foi compartilhado e como resposta das questões levantadas no início da entrevista, percebe-se a falta de conhecimentos da entrevistada acerca de seus antepassados e a falta de uma formação escolar, o que remonta toda uma violência epistemológica sofrida por si e seus antepassados. Em contrapartida, existe uma concepção de que a ação feita com sua tataravó foi uma violência e isso é possível, devido aos conhecimentos transmitidos e recebidos oralmente acerca de seus antepassados e que ajudou na construção da sua percepção crítica acerca dos acontecimentos. Nomear os sujeitos que foram noutro tempo influenciados e afetados pelo colonialismo e contar suas histórias, é uma tentativa descolonial de se buscar resistir e ressignificar acerca desses processos. A violência epistemológica é atualmente um dos métodos da colonialidade de se estabelecer. E recontar as histórias e conhecimentos através da oralidade foi a forma de resistência epistemológica encontrada que emergiu a partir do método de história de vida. Dessa forma, o presente trabalho buscou compreender um pouco acerca dos processos coloniais e da colonialidade, que encontrou na resistência epistemológica através da oralidade, partindo da história de vida de uma tataraneta de índia cabocla, como uma forma de resistir a esses processos.
Palavras-chave: Colonialismo; História de Vida; Indígena.