Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
José Lucas Soares de Araújo, Antônio Vladimir Felix da Silva
Resumo: INTRODUÇÃO: No diagrama de forças que constituem a produção das subjetividades no contemporâneo, nossa experiência democrática aponta para uma recusa por grande parcela dos movimentos minoritários de um modelo de atuação política ligado às instituições. Neste sentindo, nos perguntamos de que formas os sujeitos individuais ou coletivos se aliam à outros na produção de atos insurgentes que pleiteiam a defesa ou a criação de condições de sustentação da vida. OBJETIVO: Este estudo objetivou cartografar processos de subjetivação das manifestações e atos políticos de outubro de 2018 a outubro de 2019, dando testemunho acerca de como as resistências se atualizaram em Parnaíba, Piauí, Brasil. CAMINHOS METODOLÓGICOS: Para dar corpo a este estudo utilizamos como abordagem metodológica a cartografia no acompanhamento de 12 manifestações e atos políticos que ocorreram no período de outubro de 2018 a outubro de 2019, em Parnaíba-PI: a) As rodas de conversa e reuniões no Todos contra o Fascismo nos meses de setembro e outubro de 2018; b) O ato do movimento Ele Não!; c) O encontro do 17 de Maio, Dia de Combate à LGBTfobia; d) o 15 de Maio e o 30 de Maio do Todos pela Educação; e) as assembleias estudantis independentes e as duas manifestações de contra o feminicídio (UESPI e UFPI), dentre outras. Utilizamos como ferramentas a observação participante e a entrevista cartográfica. Submetemos as informações produzidas à uma análise dos processos de subjetivação, onde tateamos sob as linhas mais segmentadas que traçavam o plano subjetivo presente nas manifestações, além das linhas flexíveis onde podemos identificar algumas contradições e as linhas de singularização. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A discussão e resultados apontam para uma coexistência de: a) modos segmentados de fazer política e modos que afirmam um múltiplo que subtrai formas ditas ultrapassadas, como a tentativa de cooptação do movimento das mulheres, para organização das manifestações do dia internacional da mulher, no 8 de março do mesmo ano, por grupos compostos majoritariamente por homens ligados a um coletivo de representantes de movimentos instituídos em sindicatos, associações, articulações e agremiações; ou os processos de composição hibrida que caracterizam o movimento estudantil de Parnaíba, pois como qualquer movimento heterogêneo há divergências entre os próprios componentes, pois há componentes que durante as manifestações produzem enunciados que ensejavam uma performance sobre luta de classes, com discursos anticapitalistas e apoio às trabalhadoras e aos trabalhadores cuja vida vem sendo cada vez mais precarizada haja vista a gradativa perda de direitos, mas existem também processos segmentados que demonstraram resistência reativa ao compor manifestações que sejam organizadas por sindicatos e partidos que são instituições historicamente ligadas à luta de classes. b) Correlação de forças produtivas do desejo e de alianças na perspectiva do devir-comum e da singularidade qualquer. A produção das assembleias modifica e transforma as estruturas de funcionamento da cidade, de organização da vida no socius, criando espaços de aparecimento, plataformas de luta, territórios sazonais. Um exemplo de profanação em nosso território foi a realização da Conferência Municipal de Saúde, em 2019. Após o anuncio da gestão municipal de que haveria apenas uma reunião para indicação de delegados à Conferência Estadual de Saúde, militantes do Sistema Único de Saúde - SUS e de grupos minoritários se articularam e organizaram uma ocupação na prefeitura, não só reivindicando a realização da Conferência Municipal, como também se mobilizando para fazer a autogestão da mesma, algo que não havia acontecido ainda na história de Parnaíba. Apesar das divergências tornarem explícitas as forças que segmentavam os coletivos parnaibanos e os ressentimentos causados pela produção de subjetividade colonial-capitalística, durante as manifestações tivemos algumas experimentação que se aproximaram deste devir-comum grupalidade. Conseguimos constituir mesmo que em breves momentos uma aliança entre grupos partidários, sindicatos e movimentos estudantis e coletivos de mulheres e LGBTQI+. CONCLUSÃO: A experiências vividas nos mostram uma dinâmica de composição dos atos políticos que respondem a nossa vulnerabilidade. Ora alguns sujeitos se mostravam reativos a uma composição heterógena e a uma descentralização do poder seja como resposta às violências históricas ou por um alinhamento do desejo aos microfascismos, ora havia a produção de políticas do comum que potencializam o corpo fazendo com que a subjetividade atenda à solicitação ética do desejo respondendo sob a forma de uma micropolítica ativa que não só produz uma localidade sobre os espaços duros, empresariais e hierárquicos, mas, inaugura uma nova forma de se relacionar com o outro, com o espaço, produzindo alianças, anunciando uma comunidade por vir.
Palavras-chave: Aliança; Cartografia; Processos de subjetivação.