Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Táhcita Medrado Mizael, Sarah Carolinne Vasconcelos Barrozo, Maria Helena Leite Hunziker
Resumo: A população negra assistiu, durante muito tempo, pesquisadoras e pesquisadores os estudarem, como se a população negra fosse apenas objeto de pesquisa. Felizmente, essa realidade tem mudado cada vez mais, de forma que a população negra tem sido crescentemente protagonista em estudos sobre a condição de ser negro/a, sua vida e história. Nos últimos anos, um dos temas de estudo que vem emergindo tem sido descrito como a solidão da mulher negra. Essa temática tem aparecido em discussões acadêmicas e não acadêmicas, como blogs, vídeos do Youtube, artigos e dissertações de mestrado. Embora seja consenso que esse fenômeno é resultado do racismo e, em algumas discussões, da intersecção do racismo com o machismo, não se sabe exatamente o que a literatura traz sobre este fenômeno. A ausência de literatura sobre as mulheres negras pode ser vista como uma forma de negligência com relação a uma população que consiste em praticamente um quarto da população brasileira; mais de 50 milhões de mulheres negras. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi, justamente, buscar responder à pergunta O que a literatura nos mostra sobre o fenômeno descrito como solidão da mulher negra?. Para isso, foi realizada uma revisão da literatura brasileira para entender os significados atribuídos ao termo e discutir algumas de suas implicações. Quanto à metodologia, três bases de dados foram consultadas: Portal de Periódicos CAPES, Banco de Teses e Dissertações da CAPES e plataforma BVS. Algumas dificuldades encontradas neste percurso foram o baixo número de artigos encontrados, trazendo a necessidade de incluir também teses, dissertações e trabalhos publicados em anais de eventos, além de uma busca adicional no Google, com o objetivo de abarcar estudos não encontrados nas bases de dados. As palavras-chave utilizadas foram solidão da mulher negra, solidão da mulher preta, rejeição da mulher negra, e rejeição da mulher preta. Com base nessas palavras, oito trabalhos foram selecionados. A maioria das pesquisas (sete) foi publicada nos anos 2010, o que mostra que esse é um tema de investigação recente. Também vale destacar que este tema parece ser uma preocupação de mulheres negras, uma vez que oito das 10 autoras dos trabalhos são mulheres negras. Isso mostra que as mulheres negras têm sido protagonistas em estudos sobre suas histórias de vida, algo bastante importante. Todos os trabalhos destacaram o racismo como fator central na solidão dessas mulheres; alguns relacionaram o impacto do racismo e do machismo, ou do racismo, machismo e questões de classe como determinante dessa solidão. A solidão foi relacionada a falta de um parceiro, a ausência de interação com outras pessoas negras, ao abandono parental ou do parceiro, ao preterimento afetivo-sexual, a não se sentir amada e a sentir que é uma pessoa que não tem importância. Um ponto que merece destaque é a culpabilização dos homens negros, relatada por grande parte das mulheres negras participantes dos estudos e o desafio de ouvir essa denúncia, mas, ao mesmo tempo, entender que nossas preferências afetivo-sexuais são condicionadas pela cultura, ou seja, de sermos capazes de entender que, por vivermos em uma sociedade racista e machista, as mulheres negras acabam ficando na base em diversos âmbitos, incluindo o afetivo e/ou sexual.
Palavras-chave: solidão da mulher negra; revisão de literatura; negritude.