Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Ana Letícia Cordeiro de Melo, Érika de Sousa Mendonça
Resumo: Este texto surge a partir de reflexões que foram suscitadas em uma disciplina que articula estudos em Psicologia, Gênero e Questões Étnico-Raciais, em um curso de graduação em Psicologia, de uma Universidade pública situada no interior de Pernambuco, no Nordeste brasileiro. Nesta circunstância, os estudantes tiveram a oportunidade de aproximação com o pensamento do psiquiatra, filósofo e ativista martinicano Franz Fanon (1925-1961), através de sua obra mais famosa, intitulada Pele Negra, Máscaras Brancas. Trata-se de uma riquíssima articulação interdisciplinar, uma insubordinação epistêmica e médica em si mesma, onde o autor costura aspectos subjetivos, filosóficos, poéticos e políticos em sua escrita, a fim de argumentar acerca da multidimensionalidade da dominação racial. Dito isto, reflete-se acerca da relevância do pensamento do autor para os estudos em Psicologia, especialmente na graduação, na medida em que ele evoca uma compreensão das repercussões da lógica colonial e racista no negro, em níveis cultural, subjetivo e ontológico, permitindo-nos um olhar para além das expressões econômicas, políticas e sociais refletidas na corporeidade, mais facilmente identificáveis. Fanon nos confronta com a face mais violenta do imperativo colonial: a mortificação simbólica, expressa na negação do direito à alteridade e a uma ontologia ao negro, visto que, para este, a alteridade não é outro negro, é o branco (FANON, 2008, p. 93). Ao negar-lhe uma ontologia própria, nega-se ao povo preto o direito de ser e sonhar em sua singular existência, indo muito além da dimensão corpórea da opressão. Nessa direção, a imersão na obra de Fanon, permitida pela vivência da disciplina, na medida em que representa um rompimento com a estrutura bibliográfica tradicionalmente oferecida aos estudantes da graduação, oferece as bases para o desenvolvimento de uma Psicologia mais comprometida com as questões raciais, permitido o deslocamento de nossas práticas e métodos do cânone eurocêntrico, a partir de outras cosmovisões, cosmogonias e epistemologias não-brancas. Colocamos, ainda, a necessidade de que uma formação em Psicologia se construa em consonância com a realidade dos estudantes, considerando, inclusive, uma maior inserção de discentes negras e negros na Academia, especialmente após a implementação das políticas afirmativas de acesso ao ensino superior. Desse modo, o investimento em ofertar espaços de construções descolonizadoras, permite também a estes estudantes a possibilidade de auto reconhecimento, fazendo parte do ambiente universitário, até então centrado em sujeitos brancos e de classe média, excluindo-o em sua interseccionalidade de vulnerabilidades, a partir de elementos como raça (negros), classe (pobres) e etário (jovens). Compreendendo-se e ampliando-se, enfim, a concepção da ideologia racial, esta que se impõe numa lógica colonial de diferenciação e dominação racial, acredita-se que esteja a proporcionar aos estudantes uma formação mais crítica, questionadora, politizada, preocupada com as transformações sociais que são necessárias. Ressalta-se, por fim, que ao apresentar aos estudantes concepções e debates de racialidade como os que pudemos vivenciar, especialmente motivados por leituras decoloniais e pós-coloniais, como a aqui evidenciada através da obra de Franz Fanon, estimula-se a que também os estudantes brancos possam refletir a si mesmos na lógica da branquitude, dos privilégios, revendo suas próprias condutas, tanto pessoais, quanto formativas, implicando em futuros profissionais mais empáticos e também mais combativos na luta antirracista necessária a todos. REFERÊNCIAS. FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador, EdUFBA, 2008.
Palavras-chave: Fanon; Dominação Racial; Formação em Psicologia;