Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Francisco Cristóvão Epaminondas Silva Chaves
Resumo: O presente texto recolhe para si, como ponto de partida, palavras e expressões linguísticas correntes no cotidiano para debater a capacidade de significantes aglutinarem tantos significados oriundos de uma historicidade e residualidade racista, colonial e escravocrata do Brasil e do Nordeste. Tomamos como objeto a obra A Bagaceira, de José Américo de Almeida, desta mesma obra veio a nossa pergunta norteadora: que é a bagaceira?. A pergunta anterior nos leva formular outras perguntas como quem são as pessoas bagaceira e por que as chamamos assim. Ao desnudas os significados racistas dessa palavra descobrimos a história do povo nordestino e sobre isso nos deteremos a discutir a partir de agora. Rastros, palhas e restos constituem o bagaço, também o refugo e a sobra da moenda e da forrageira ou qualquer outra migalha sem serventia de venda era a composição daquilo em que os trabalhadores do engenho após o cansaço de sua exploração no cultivo, transporte, extração e moenda de cana se deitava para descansar. Deitados sobre a bagaceira, essas pessoas miscigenadas que sobreviviam da exploração do próprio trabalho eram a própria bagaceira, eram o próprio resto dos brasileiros que não tinham valor. O cultivo de cana no Nordeste concentrava nos engenhos e fazendas trabalhadores desde o plantio, passando pelo corte e chegando até as moendas para a extração do seu sumo para a manufatura de produtos para geração de vendas e lucro ao senhor de engenho. Todo o sistema de produção até a extração da cana atraía diversos trabalhadores de intensa mestiçagem das etnias presentes no Nordeste filhos de colonizados, escravizados e abusadas por brancos. Dito isso, este trabalho busca outrossim, a partir deste recorte da expressão linguística bagaceira presente no título homônimo e no texto da obra de Almeida, trazer uma análise fundamentada nas bibliografias marxistas e marxianas, sobretudo em Marx e Bakhtin, para discutir as péssimas condições de trabalho e de exploração em que os nordestinos filhos de pessoas que foram colonizadas, escravizadas e abusadas historicamente se encontravam. Este trabalho é então metodologicamente dividido em dois momentos, o primeiro trata da construção da expressão linguística bagaceira e como ainda hoje se dá esse adjetivo às pessoas sem valor, às pessoas que se deve manter distância. Neste ângulo, a obra literária de Almeida dá possibilidade de desnudar uma expressão linguística corrente na atualidade e evidenciar seus aspectos colonialista, escravocrata e racista. Assim também como é possível encontrar esses resíduos linguísticos nas expressões serviço de preto, denegrir, feito nas coxas, mulata e outras mais. Após este momento, o trabalho tenta ainda utilizando a obra literária de Almeida para fazer uma análise crítica com o método dialético marxiano para tomar o conceito da luta de classe e se interrogar se a história do Nordeste como exploração do trabalho e desenvolvimento da sociedade também não seja a história da luta de classes. Dessa forma, o presente trabalho busca considerar, não sem percalços na articulação desta discussão, que inserir língua, literatura e sociedade para compartilhar a leitura do que nos constitui como nordestinos. Por último, este texto busca compartilhar uma possibilidade de leitura sobre a história dos nordestinos ao trazer uma análise da nossa forma pós-colonial de sobreviver, que foi impropriamente sobre o bagaço.
Palavras-chave: bagaceira; linguística; luta de classes