Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Fabiane dos Santos Cavalcante, Lays Ferreira
Resumo: Os padrões racistas alimentados pela sociedade brasileira e suas instituições são produtos de toda uma estrutura forjada na discriminação racial. Historicamente falando a população negra sempre foi alvo da exploração e apagamento identitário, onde nas relações de poder estabelecidas, a supremacia racial branca sempre existiu. Logo, o racismo é fruto de toda uma estrutura social composta pelas diversas relações políticas, econômicas, jurídicas e familiares existentes. Falar desse racismo estrutural é entender que o mesmo é um dos elementos embasadores das diversas construções sociais, coletivas e individuais, do país. Embora estruturante, o racismo deve ser contestado e combatido com ações antirracistas, que consistem em fornecer à população negra toda uma reparação histórica. Como uma tentativa de se encaixar nessa sociedade estruturalmente embranquecida, sendo aceita e galgando mobilidade social, a pessoa negra vivencia cotidianamente um processo de negação de si mesma, do seu corpo e da sua mente. Esse fenômeno proveniente do racismo, o branqueamento, acaba por gerar imensuráveis violências e consequentes traumas para quem o vivencia. Todo esse cenário acaba por refutar o mito da democracia racial presente no Brasil, uma vez que tal pensamento nega o preconceito e discriminação presentes na sociedade, supondo que todo o fracasso da população negra deve a si mesma, fornecendo assim os argumentos utilizados pela branquitude racista para se defender e continuar de posse de seus privilégios raciais. Partindo agora para os contructos que tangem a população negra feminina, entre os anos 1530 e 1888, período declarado de escravidão no Brasil, as negras ocuparam o lugar de um ser explorado em todas as suas dimensões, sofrendo violência sexual, gestações forçadas, atividades de grande impacto físico, rompimento nas relações afetivas com os filhos e muita agressão física e psicológica. Considerando uma teoria de trauma histórico, as mulheres negras ainda vivem sob as sombras da escravidão, visto que na era atual as mesmas permanecem em lugares de desigualdades. Dados do Ipea e do IBGE(2018) mostram que as mulheres negras são a minoria em ocupar postos efetivos e regulares de trabalho, em ter casamentos certificados e habitar em moradia com serviços de saneamento básico. Ainda hoje, a mulher negra, em sua maioria, encontra-se na dupla imagem de visibilidade entre a mulata e a doméstica. Em contrapartida, essas mesmas mulheres vivem sob um cabo de força psíquico, entre a potencialidade de empreender a força e a vivacidade ancestral presente nas vísceras e a sensação de rejeição e invisibilidade social, já que para a mulher negra ser percebida, ela precisa se evidenciar muito mais que qualquer outro ser humano. Diante dos dados expostos, o presente estudo teve como problemática norteadora de análise a indagação de quais seriam os possíveis impactos do racismo estrutural no sofrimento psíquico da mulher negra no Brasil, objetivando sequencialmente compreender como tal fenômeno social pode impactar a vida dessas mulheres. É válido destacar que durante o percurso da discussão, a maior dificuldade encontrada foi identificar obras no campo da psicologia que contemplam o estudo do desenvolvimento e a compreensão da subjetividade da mulher negra que cresce e se constitui dentro de um estigma de um sistema social preconceituoso, discriminatório e opressor. Utilizando uma metodologia qualitativa, baseada na análise exploratória de diversos materiais, tais como artigos, dissertações, teses, livros e documentários, para elucidar a problemática levantada, a pesquisa percorreu os caminhos de sua construção seguindo três objetivos específicos: apontar os principais fatores sócio históricos originários das desigualdades interseccionais no Brasil; apresentar o conceito de racismo estrutural e; analisar a relação do racismo estrutural com o sofrimento psíquico da mulher negra no Brasil. Após ser realizada uma imersão em obras como: Racismo estrutural, de Silvio Almeida; Psicologia Social do Racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil, de Iray Carone e Maria Aparecida Silva Bento; Lugar de Negro, de Lelia Gonzalez e Carlos Hasenbalg; Eu nao sou uma Mulher? Mulheres negras e feminismo, de Bell Hooks; Quem tem medo do feminismo negro, de Djamila Ribeiro, dentre outras obras, foi possível entender que tais evidências vão além do questionado e apresentado aqui. Pensar numa possível resolução de tal problemática diz respeito a pensar em toda a movimentação e reestruturação da nossa sociedade. É válido salientar que o questionamento e a busca por compreensão histórico-cultural é um caminho para construção e exposição de conhecimentos e saberes, esse é o mesmo caminho para que assuntos como esse alcancem espaço na educação e em discussões de impacto social, já que é a sociedade que muda a cultura. Dessa forma, a presente pesquisa tem o intuito de provocar a reflexão acerca do racismo presente em nosso contexto cultural, que muitas vezes mesmo explicitado através de símbolos, é parte de um sistema muito bem estruturado, mantido para sustentar o lugar de um grupo dominante e negar possibilidades de ser uma pessoa negra em nosso país.
Palavras-chave: Racismo; Negra; Brasil.