Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Alana Kylvia Oliveira Freire, Sara Guerra Carvalho de Almeida
Resumo: Este trabalho objetiva debater sobre a reincidência de adolescentes em medidas socioeducativas de internação no Ceará. Pautou-se na experiência de estágio na graduação em psicologia entre agosto de 2019 a abril de 2020. A atuação neste contexto precisa tanto da interdisciplinaridade, como de um enfoque micro e macro contextuais. Tais perspectivas questionam a proposta de ressocialização em sujeitos marcados pela vulnerabilidade social, ausência de garantia de direitos fundamentais e afetividade de políticas públicas. O histórico dos adolescentes acarreta a reincidência nas medidas socioeducativas e reitera a falta de apoio e acompanhamento do Estado antes e após cumprir a medida determinada pelo juiz. Após a saída da internação, as dificuldades potencializam, principalmente na falta de oportunidades de profissionalização, educação, segurança, entre outros. O mercado de trabalho, por exemplo, estigmatiza o adolescente por ter cumprido alguma medida socioeducativa. Além disso, a rede de apoio comunitária do adolescente segue, muitas vezes, fragilizada, devido à violência comunitária marcada pela conjuntura do tráfico de drogas, pelo avanço e a transformação das gangues em uma estrutura de crime organizado no formato de facções criminosas. Durante o período de estágio, junto a equipe técnica da instituição, algumas estratégias foram utilizadas para tentar diminuir o nível de reincidência dos adolescentes no centro socioeducativo. Tais estratégias visavam o fortalecimento das redes de apoio fora do centro socioeducativo, tais como a escola, curso profissionalizante, inserção no mercado de trabalho e parceria com instituições na comunidade. Além dessas, a conscientização da família sobre o apoio antes e após o cumprimento da medida socioeducativa, o fortalecimento dos vínculos familiares fragilizados, sendo esses vínculos observados através do atendimento familiar e dos atendimentos individuais. Como aprendizado nesse período de estágio é possível ressaltar que fica mais perceptível o contexto como desencadeador das ações do adolescente, ou seja, há sempre um histórico complexo por trás do ato infracional. A desigualdade social do nosso país também tem um peso na vida desse adolescente. Já são estigmatizados antes mesmo de cometerem o ato infracional, associados ao mundo do crime e carregam o rótulo e o descrédito social de seus locais de moradia. Assim, após a privação de liberdade, retornam aos territórios estigmatizados, agora privados de liberdade, em centros socioeducativos. Neste contexto, a atuação profissional desafia a ver de perto como a reinserção do adolescente na sociedade é complexa, bem como, se faz necessário ter mais profissionais nesse campo de trabalho. Sobre a importância do trabalho da psicologia com os adolescentes em medidas socioeducativas, vale ressaltar a necessidade do trabalho com a família e com a rede de apoio comunitária, pois apesar de cada indivíduo carregar certas características e responsabilidades próprias da individualidade, a percepção das dinâmicas sociais de coletivo é inegável. Diante dos aprendizados nesta experiência relatada, destaca-se a importância do cuidado com a saúde integral (biopsicossocial espiritual), o trabalho interligado com a garantia de direitos da criança e do adolescente e a mobilização dos programas fornecidos na rede comunitária. Além disso, vale destacar a importância do cuidado com a saúde do profissional que atua nas medidas socioeducativas, pois é um contexto de trabalho complexo e que pode acabar adoecendo e desmotivando. Trabalhar em medidas socioeducativas é tentar reinventar a prática para ter um maior impacto na vida do adolescente e possibilitá-los recursos que garanta o desenvolvimento dos potenciais e um convívio social saudável. As atividades também devem desenvolver o potencial do adolescente como sujeito, autor e protagonista de sua história e de suas escolhas.
Palavras-chave: Medidas Socioeducativas; Adolescentes; Reincidência.