Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Jennifer Ester de Sousa Bastos, Tatiana Machiavelli Carmo Souza
Resumo: A sociedade brasileira é estruturada pela lógica do capitalismo patriarcal colonial que sustenta inúmeros modos de opressão, violência, desigualdade e subalternização - como a violência de gênero e o racismo estrutural - e a vida das mulheres negras, majoritariamente pobres, é dimensionada pela opressão de raça, gênero e classe que se interseccionam. Partindo desses aspectos, o presente trabalho busca identificar e compreender como se dão as vivências de racismo e violência de gênero nas relações amorosas interraciais de mulheres negras. Trata-se de um projeto de Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Psicologia da Universidade Federal de Catalão. A literatura aponta que o racismo a brasileira funciona a partir da negação, da exaltação da democracia racial e da miscigenação que inclusive foi perpetrada através da violação colonial dos senhores brancos contra mulheres negras e indígenas. Nesse sentido, é recorrente que os relacionamentos interraciais sejam apontados como justificativa para validar a crença de que não há distanciamento entre negros/as e brancos/as, o que escamoteia a presença do racismo. Todavia, é importante destacar que os padrões encontrados nas uniões interraciais não são aleatórios e nem exclusivamente guiados pelo afeto, a união interracial é seletiva. Negros, e de modo mais acentuado mulheres negras, são incluídos/as apenas parcialmente nessas relações, o que tem dentre suas justificativas o colorismo. Outra questão observada é o fato de que a relação de afeto não isenta as mulheres de se verem vítimas da violência de gênero e nem do racismo, esta relação pode ainda, contribuir para a manutenção dessas violências. Além disso, nota-se a importância de pensar as vivências de racismo e violência de gênero das mulheres negras de modo interseccional, visto que os modos de opressão nunca aparecem de forma isolada, as estruturas de subordinação se interagem e colidem. Para mais, o estudo da arte do tema demonstra que apesar da violência de gênero ser uma temática que se tornou mais presente nas discussões acadêmicas das últimas décadas, no Brasil, a intersecção entre violência de gênero e racismo ainda não é tão abordada, há muita dificuldade em encontrar estudos relacionados, fora que as poucas pesquisas que se debruçam frente ao assunto têm enquanto foco entender quais aspectos contribuem para que as mulheres negras sejam mais suscetíveis à violência de gênero e a falta de assistência protetiva, e não ao modo pelo qual o racismo se articula à violência de gênero e reverbera nas relações afetivas. Ao considerar os estudos realizados para a pesquisa - que atualmente se encontra em fase de construção da metodologia - observa-se a complexidade e a urgência de se discutir o tema, principalmente quando pensamos que as mulheres negras compõem os maiores índices de violência doméstica e feminícidio e que o homem branco cis e heterossexual, principalmente burguês, levando em conta as relações de poder, ocupa historicamente uma posição de opressor substancial dessas mulheres. Não se trata de uma tentativa de deslegitimar as relações interraciais, mas sim de compreender que há a necessidade de direcionar o olhar para as complexas articulações entre gênero, raça e classe que se apresentam nas experiências de violência de gênero e racismo no âmbito dessas relações. É a partir do desvelamento e problematização de tais mecanismos que se faz possível mudanças, e é nesse sentido que o pensamento interseccional é indispensável enquanto método de investigação consoante a busca da justiça social.
Palavras-chave: Racismo; Violência de gênero; Interseccionalidade