Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Nathália de Oliveira Silva, José Fernando Andrade Costa
Resumo: A saúde mental vem sendo amplamente discutida em termos de prevenção e recuperação de transtornos psiquiátricos, mas pouco abordada na perspectiva da promoção da saúde, especialmente em contextos comunitários. Entende-se por promoção da saúde mental, qualquer ação realizada para maximizar a saúde mental e o bem-estar entre populações e indivíduos. Na literatura internacional, este é um campo presente nas reflexões propostas pela Organização das Nações Unidas e nos programas de promoção da saúde mental implementados em diferentes contextos. Neste estudo, partindo do referencial teórico da Saúde Comunitária, entende-se que é possível pensar promoção da saúde mental a partir das relações comunitárias estabelecidas em um determinado território. Sob esta perspectiva, a comunidade não se torna o lócus de implementação de ações prescritas pela política de saúde, mas torna-se sujeito do processo que chamamos de promoção da saúde mental comunitária. No Brasil, apesar da larga tradição de estudos de promoção da saúde na Atenção Básica do SUS, pouco tem sido observado sobre as ações locais das comunidades em estratégias de promoção da saúde mental. A fim de contribuir com esta temática, o presente estudo buscou compreender as concepções e estratégias de identificação e enfrentamento dos problemas de saúde mental nas relações comunitárias de um território. Realizou-se uma pesquisa empírica exploratória, de abordagem qualitativa, do tipo pesquisa-participante e de orientação comunitária, desenvolvida em um território vizinho ao campus de uma Universidade Pública Estadual em um município do interior do estado da Bahia, realizada com informantes-chave da comunidade. Totalizando seis informantes-chave: um líder religioso, um dono de bar, um artista de teatro, uma psicóloga do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), o líder de uma Organização Não Governamental e o representante do Programa de Sustentabilidade, ambos presentes território. Algumas dificuldades se impuseram à realização da pesquisa, dentre elas o atravessamento pelo período de isolamento social da pandemia da COVID-19 e dificuldade na aproximação com participantes da Unidade Saúde da Família do território. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados, a observação participante e entrevistas orientadas por roteiro semiestruturado; os dados coletados foram submetidos à análise temática e inferencial . O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana. A partir das observações e entrevistas, o território se traduziu em um conjunto de relações que dada a sua natureza e qualidade, são descritas em duas comunidades, uma de estudantes universitários e outra de moradores permanentes, atravessando-se no cotidiano em suas tensões e aproximações. Diante da temática da saúde mental, observou-se que os informantes-chaves se posicionam de forma ativa diante das necessidades dos integrantes do território, sendo identificados em dois grupos de ações e estratégias: ações individuais, isto é, o acolhimento, acompanhamento e encaminhamento de um indivíduo; e ações coletivas e comunitárias, sendo estas atividades em diferentes áreas visando a saúde e o desenvolvimento da comunidade. Tais ações se estabelecem no contexto de cada informante-chave, ou seja, na mesa do bar, em aconselhamentos espirituais, atendimentos psicológicos ou mesmo na interação cotidiana. O que se destaca destes achados é que comumente estes locais não são pensados como estratégias legitimas ou eficazes de atenção e cuidado em saúde mental, mas neste estudo identifica-se nuances promissoras particulares destas interações. A literatura descreve tal configuração como um processo de conscientização da comunidade, bem como ilustra a presença do apoio social, produzido pelo estabelecimento de vínculos afetivos, como um fator de proteção de sofrimento mental, apontando ainda para indícios de resiliência comunitária. Entretanto, a promoção da saúde mental comunitária apresenta uma complexidade, demandando uma ação transversal, intersetorial e com a participação de diferentes atores, sendo elucidada a possibilidade e potencialidade de participação da Estratégia Saúde da Família neste processo. O que emerge dessa reflexão é a necessidade de um posicionamento ativo, de profissionais da saúde e acadêmicos que dialogam com o território, em reconhecer e valorizar os saberes e recursos da comunidade e contribuir em suas necessidades e bem-estar. O estudo apresentou limitações em seu processo, especialmente na compreensão do olhar da Unidade Saúde da Família sobre a realidade local, demandando a necessidade de estudos posteriores neste e em outros territórios, a fim de integrar aspectos e avançar na discussão. Por fim, entende-se que na atual conjuntura, faz-se necessário reforçar a importância teórica e empírica de fortalecimento das comunidades como processo para uma transformação social, especialmente no campo da saúde mental.
Palavras-chave: Promoção da Saúde; Psicologia Comunitária; Saúde Mental.