Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Aline Cecilio da Silva, Áurea Cristinne da Silva Gomes, Cauê Assis de Moura, Milena da Silva Medeiros, Naricla Mariana dos Santos Batista, Marcos Ribeiro Mesquita
Resumo: A partir da democratização da internet, e por consequência, da ampliação do acesso às mídias digitais, muitos grupos minorizados passaram a ocupar um espaço que lhes permitem trazer suas próprias narrativas acerca de suas vivências; a partir disso aproxima-se de um público semelhante, levantando discussões sobre temáticas relevantes e urgentes, como o racismo, desigualdade de gênero e violência. Em um país com população majoritariamente negra, porém que ainda carrega o estigma da escravização e suas consequências perpetuadas por muitos meios, dentre eles, o encarceramento em massa, o genocídio da juventude negra e a pouca representatividade em espaços de poder, urge a necessidade do debate racial, sendo essencial sua ocorrência de forma mais ampliada. No entanto, é necessário que esse debate não se restrinja apenas às pessoas da academia. É preciso que os/as sujeitos/as construam esse debate a partir de suas próprias vozes e que seja permitido que falem também para além da dor, sua trajetória, de suas memórias e seus afetos para além da violência do racismo na sociedade brasileira. Com o interesse em analisar as narrativas de negras e negros, analisamos trinta vídeos de entrevistas com convidados/as de diversas áreas que participaram do projeto Potências Negras, produzido pelo youtuber Murilo Aráujo. O projeto foi realizado no mês de novembro de 2019 em alusão ao mês da Consciência Negra e está disponível em seu canal intitulado Muro Pequeno. As entrevistas foram analisadas com base no conceito de interseccionalidade, a fim de compreender como diferentes marcadores sociais articulavam-se nas trajetórias dessas pessoas, bem como, enfocando as estratégias de resistência e representatividade que se entrecruzam nas falas. Trazendo convidados/as de diferentes áreas que perpassam pelo teatro, a dança, os movimentos sociais, o esporte, entre outras, o youtuber Murilo Araújo faz com que as/os entrevistadas/os se apresentem e narrem suas trajetórias, elaborando um debate sobre representatividade racial, o contexto de ser negro/a na sociedade brasileira e a conjuntura política do país. Apesar da grande variedade de narrativas, alguns pontos que unem as histórias relatadas pelos entrevistados/as são o racismo encarado em diferentes segmentos na sociedade e a necessidade de estratégias de enfrentamento ao preconceito e invisibilização dos corpos. Uma das estratégias mais pontuadas relaciona a perspectiva que articula corpo e arte como ato de resistência. Através da arte se reconhece os corpos como políticos, rompendo uma hegemonia que os têm invisibilizado. Além disso, o resgate de um pertencimento afro-ancestral, permeou as reflexões sobre a compreensão de um passado articulado ao presente, necessária para enxergar a construção de um futuro. Esse pensar na continuidade abrange a importância da manutenção do senso de coletividade, sendo de grande relevância para a criação de estratégias de resistência e auto-afirmação dessa população invisibilizada. Entende-se, então, que é através do aquilombamento que se fortalece a diversidade, o movimento e a liberdade desses corpos políticos, colocando a diversidade como regra fundamental e indispensável no combate às desigualdades. A análise das diversas entrevistas reforçam que a intersecção entre gênero, sexualidade, classe e raça produzem efeitos nas suas experiências de vida, e corroboram com a pluralidade de narrativas. Reiterando a importância de pessoas negras ocupando os mais variados espaços, principalmente os de sujeitos/as falantes por si, e criando novos espaços e oportunidades, quando necessário, a fim de favorecer a representatividade com o objetivo de movimentar as estruturas racistas, pois ser negro/a por si só é politico. A partir de discussões entre o grupo acerca das narrativas trazidas nos vídeos, da produção de escritas livres e individuais que contemplassem nossas impressões focando nas interseccionalidades, experiências políticas e representatividade desses corpos, obtivemos êxito em identificar como a diversidade presente nas diferentes narrativas do projeto Potências Negras contribuiu para um olhar mais profundo sobre a importância das mídias digitais e os processos de resistência para a negritude. Esse movimento de comparação e análise dos discursos dos entrevistados, representa esperança ao perceber o quão revolucionário é enxergar a negritude ocupando os mais diversos espaços nas mais variadas áreas do saber. Mas também, grandes deslocamentos, reflexões e incômodos foram causados através das marcas do racismo que atravessam diariamente a população negra brasileira. Estudar o material audiovisual do youtuber Murilo Araújo, nos fez resgatar a necessidade de enxergar o poder da ancestralidade, pois se sabemos de onde viemos, saberemos para onde queremos ir (Sankofa). Além disso, nos transportou para o debate sobre a luta por direitos como estratégia de manutenção da existência dessa população, entendendo assim, como a coletividade assume um papel essencial nessa luta e no próprio existir do corpo negro.
Palavras-chave: Raça; Mídias Digitais; Interseccionalidade