Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Hélvia Monique Modesto dos Santos, Cauê Assis de Moura, Samuel Conselheiro Germano do Nascimento, Marcos Ribeiro Mesquita
Resumo: A sociedade tem se transformado a partir da democratização da internet residencial e as mídias alternativas têm possibilitado diálogos e narrativas que oportunizam a produção de discursos contra-hegemônicos capazes de gerar ações micropolíticas. O canal do Youtube Afros e Afins de Nátaly Neri é um exemplo de construção dessas narrativas. Tive por objetivo, compreender como as produções de Nátaly, corroboram para a construção de discursos contra-hegemônicos no cenário de conservadorismo atual, explorando a relação das culturas digitais com a política e as juventudes. Este estudo caracteriza-se por ser de cunho qualitativo e parte de uma metodologia feminista, onde as pesquisadores investigam membros de seu próprio grupo social ou de lugares similares. É, portanto, uma pesquisa realizada por uma jovem pesquisadora, mulher negra, que tem por sujeito de pesquisa Nátaly Neri, outra jovem mulher negra, e suas produções no canal do Youtube, produções essas que tensionam, inquietam, e que com isso movimentaram o processo de minha escrita em forma de muitos enlaces e atravessamentos, tocando em feridas pessoais, mas compartilhadas no coletivo, que correspondem às feridas causadas pelo racismo e misoginia. Esses entrecruzamentos podem ser apontados como uma das dificuldades dessa produção, no mesmo sentido em que podem ser compreendidos como movimentações potentes em promover novas significações a respeito na negritude e fortalecimento ao nível coletivo. Essa experiência gerou em mim inquietações, fazendo com que me encontrasse, diante dos compartilhamentos de vivências e afetos negros. Me encontrei nessas narrativas, tenho me encontrado. A escolha da youtuber que vem fazendo esse debate em uma mídia digital de grande alcance se relaciona com o nosso desejo de observar e compreender como as discussões desses temas corroboram para a construção de narrativas contra-hegemônicas no cenário de conservadorismo atual. Para isto, optamos por conduzir esta pesquisa a partir da criação de três eixos: 1. Narrativas de Si 2. Conexões interseccionais e 3. Política e discursos contra-hegemônicos. A escolha dos vídeos foi embasada nos objetivos estabelecidos previamente. Os vídeos selecionados correspondem às categorias de discussões: étnico-raciais, de gênero, sexualidade, de classe e política. Além disso, a seleção foi atravessada por processos intuitivos e afetivos. A escolha ocorreu de forma conjunta, no qual todos os integrantes do grupo decidiram coletivamente. A partir da análise foi possível compreender o quanto as narrativas produzidas pela youtuber, contribuem para a ressignificação do imaginário da negritude, construído pela branquitude. Ao discuti-las ela o faz a partir de posicionamentos críticos e de caráter político, compreendendo que suas experiências, embora aconteçam de forma individual, refletem vivências que estão situadas no coletivo. O canal de Nátaly representa um espaço de contemplação da negritude, de protagonizar a subjetividade de pessoas negras. É lugar de confronto aos padrões culturais. As produções de Nátaly seguem na tentativa de romper com velhas narrativas e construir um imaginário de negritude positiva. Os discursos produzidos pela jovem youtuber em seu canal, são carregados de sentidos políticos, suas produções voltadas para as discussões étnico-raciais e suas interseccionalidades, têm surgido como fonte de representação, resistência e oposição. São, portanto, de extrema relevância diante do cenário político conservador e legitimador de violências, no sentido em que propõe a manutenção de discursos que contestam as narrativas supremacistas e colonizadoras. Compreende-se, portanto, como um espaço de possíveis reordenamentos na política cultural, onde assegura às pessoas negras o direito de serem quem são e narrarem suas próprias histórias.
Palavras-chave: Juventudes; política; culturas digitais