Resumo: A eleição presidencial brasileira do ano de 2018 foi marcada pela simbologia, discurso e enredo organizado em torno da figura do candidato Jair Bolsonaro, que posteriormente veio a vencer a eleição, após quatro eleições vitoriosas de candidatos do Partido dos Trabalhadores. Tendo como recorte temporal as eleições 2018 e o primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro, o objetivo deste trabalho é analisar a construção discursiva do horizonte político realizado por Jair Bolsonaro e como esse discurso contribuiu para fortalecer ou enfraquecer discursos autoritários no Brasil, tendo como base a teoria do discurso desenvolvida por Ernesto Laclau. A partir desta teoria, entendemos o discurso como uma articulação entre demandas particulares que configura o sentido da realidade e, assim, delimita modos de atuar num determinado contexto histórico, sendo as práticas sociais entendidas como práticas discursivas. No que diz respeito ao autoritarismo, entendemos este como contraposto ao reconhecimento dos princípios democráticos de igualdade e liberdade, sendo a democracia dependente do reconhecimento do pluralismo de modos de vida e da expansão do espaço público a demandas de grupos historicamente marginalizados. Metodologicamente, a pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa documental, tendo sido analisados: a) documentos secundários publicados nos jornais Folha de São Paulo e na Carta Capital durante a campanha para as eleições 2018 e o primeiro ano de governo de Bolsonaro; b) documentos primários produzidos por Jair Bolsonaro, como tweets divulgados durante a campanha para as eleições 2018 e discursos oficiais do primeiro ano de governo presentes na Biblioteca da Presidência. A partir destes documentos discutimos a construção discursiva de horizonte político por Bolsonaro através da delimitação das demandas defendidas por ele e dos modos de articulação entre elas. Foi possível observar uma fluidez em seu discurso e nas demandas que os circundam. A demanda neoliberal foi uma das demandas centrais presentes em seu discurso durante as eleições de 2018  contrariando posicionamentos anteriores dele, por exemplo, contra a privatização de estatais no período do governo FHC. Outra demanda central foi pelo fim da corrupção, defendendo a operação Lava Jato e garantindo que, se eleito, iria dar continuidade a ela - entretanto, durante o primeiro ano de governo, a demanda anticorrupção foi aos poucos sendo deixada de lado e Bolsonaro realizou interferências que dificultam o desenvolvimento da operação Lava Jato, além de reclamar de investigações da Receita contra membros de sua família. As demandas neoliberais e anti-corrupção foram articuladas por Bolsonaro na eleição a outras demandas diversas como a defesa dos valores da família tradicional e da segurança em torno da delimitação de um inimigo comum que negava a concretização de todas elas: o Partido dos Trabalhadores (PT). A delimitação destas demandas como insatisfeitas no contexto político da época possibilitou a articulação destas demandas em torno da imagem de Bolsonaro, construído como um símbolo de mudança, de um horizonte político de sociedade antagônica ao status quo. Com base no material analisado e na teoria do discurso como norte, concebe-se que o bolsonarismo  horizonte político de sociedade construído em torno da imagem de Bolsonaro  fortaleceu discursos anti democráticos no Brasil, tendo em vista a criação da cadeia hegemônica que coloca um grupo como inimigo do povo, deslegitimizando seu espaço e impossibilitando sua existência.

Palavras-chave: Bolsonaro; Eleições 2018; Discurso.