Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Carla Jéssica de Araújo Gomes, Tadeu Lucas de Lavor Filho, Gabriella Celestino Lemos Furtado Gondim, Luciana Lobo Miranda, João Paulo Pereira Barros, Milena Araújo Bezerra
Resumo: Contrariando as lógicas normatizantes que atrelam às juventudes periféricas à figura do nem, nem, nem, não estuda, nem trabalha, nem pretende voltar a trabalhar e estudar, e/ou à algozes da violência urbana, jovens moradores/as das periferias de Fortaleza-CE se lançam como protagonistas de movimentos culturais de variadas estéticas e linguagens, maquinando criações, produções artísticas e novas formas de ser e viver o mundo. Inventando formas de re-existência contra as estratégias históricas de homogeneização, criminalização e invisibilização empreitadas pelo Estado e socialmente vigoradas, esses coletivos/grupos/movimentos juvenis se destacam quanto a invenção de fazeres artísticos, poéticos e de organização política. Este trabalho visa trazer os relatos da pesquisa Cartografia Social das Práticas Culturais Periféricas das Juventudes do Grande Bom Jardim, a qual se propôs a dialogar com 09 (nove) coletivos de múltiplas linguagens artísticas e culturais com o objetivo de mapear coletivamente e registrar as produções culturais das juventudes do/no território do Grande Bom Jardim (CBJ). Os bairros que compõem o GBJ estão localizados no sudoeste da cidade de Fortaleza, capital do Ceará, sendo eles: Granja Portugal, Granja Lisboa, Siqueira, Canindezinho e Bom Jardim. Esta pesquisa foi financiada pelo Centro Cultural Grande Bom Jardim (CCBJ) entre meados de 2020 e início de 2021 através do Programa Fundo de Combate à Pobreza (FECOP). O desenvolvimento da pesquisa foi liderado pela participação de jovens moradores/as do território do GBJ e jovens pesquisadores/as da Universidade Federal do Ceará (UFC). Metodologicamente, a pesquisa se dividiu em 3 (três) mo(vi)mentos: compartilhamento de um formulário de reconhecimento dos coletivos/grupos no território de periferia, com o objetivo de mapear e caracterizar os perfis dos coletivos juvenis e dos movimentos sociais, bem como dos indivíduos vinculados a estes; grupos focais realizados remotamente com os coletivos que indicaram disponibilidade, tematizando questões sobre as vidas pessoais dos/as participantes, atividades do grupo e formas de organização durante a pandemia de Covid-19; e, por fim, foi realizada uma cartografia social presencial no CCBJ com um integrante de cada organização/coletivo/movimento, momento que caracterizou-se como uma oficina para a confecção coletiva do mapa do GBJ a partir da localização dos espaços que representavam cada coletivo. O trabalho utiliza-se, principalmente, de referências da Psicologia Social, com destaque a autores e autoras anti-coloniais e pós-estruturalistas, além de áreas afins que contribuem para a discussão sobre territorialidade, juventudes e re-existências, como a geografia e a antropologia. A pesquisa finalizada em fevereiro de 2021 compõe um fio de memória que vêm sendo tecido há décadas pelos movimentos sociais no GBJ, os quais têm impresso nas ruas do território suas existências em formas de graffitis, músicas, rituais e variadas linguagens artísticas e culturais de intervenção. A pesquisa demonstrou o movimento de expansão e verdadeiro contágio das práticas de re-existências da juventude no território, evidenciadas pela realização de atividades com alcance crescente de outros jovens, maior organização política e pactuações potentes com órgãos governamentais e outras instituições da sociedade organizada, como o próprio CCBJ e o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS). Como desafios, foram pontuados a ainda frágil colaboração entre os coletivos juvenis do território, que muitas vezes não se conhecem, e a dificuldade de acesso aos direitos sociais teoricamente reservados a estes grupos, como os editais de incentivo à arte e cultura. Os dados dos grupos focais ainda estão em análise, mas previamente apresentam temas que foram discutidos nas rodas de discussão: Cidadania; Prevenção da vida contra a violência urbana na periferia; Cultura de paz; Estigmas e preconceitos; Questões étnico-raciais; Igualdade pela diversidade de gênero; Territorialidades urbanas; Ancestralidade; Questões intergeracionais; Identidade e memória dos coletivos juvenis do território (territórios de encontro da arte). Em coerência com os propósitos do Laboratório de Patrimônio e Memória do CCBJ, os resultados da pesquisa serão em breve disponibilizados gratuitamente para toda a população em formato pdf, por meio de um e-book artesanal, com o objetivo de documentar e fortalecer a história de luta do GBJ. Como dificuldades encontradas no percurso da investigação, a impossibilidade de realização da pesquisa completamente de modo presencial acabou distanciando os/as pesquisadores um pouco dos coletivos/grupos/movimentos e não possibilitou o acompanhamento de suas ações/atividades, pois parte dos coletivos ainda está se reorganizando diante da pandemia.
Palavras-chave: Coletivos juvenis; Cartografia Social; Re-existências.