Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Sayonara Neves Barbosa Gomes
Resumo:A vivência em/com movimentos sociais possibilita-nos aproximações diversas, com pessoas e culturas, assim como a construção de vínculos políticos que fortalecem o engajamento na luta e o poder da organização coletiva em torno de um projeto político e de um horizonte revolucionário. A proposta deste trabalho é refletir acerca da seguinte questão: "como os vínculos afetivos construídos nos espaços coletivos dos movimentos sociais fortalece as lutas?". Como podemos observar na história dos movimentos feministas, as mulheres puderam se organizar a partir de reuniões em que compartilhavam suas vivências no espaço privado, de vida doméstica. Com isso, elas se indignavam diante daquelas experiências que compartilhavam e que, portanto, não eram individuais, mas coletivas, ou seja, estruturais. A criação dos vínculos feministas alicerçou movimentos de massas que se refletiram em mudanças significativas nas relações sociais, de cunho social, econômico, político e afetivo. O feminismo interseccional então, ampliou a visão a respeito das desigualdades de raça, sexualidades, classe, região, existentes nos próprios movimentos feministas. Desigualdades estas por vezes invisibilizadas; assim, as mulheres negras se apresentaram/apresentam como vanguardas da luta coletiva e dos direitos sociais, evidenciando contradições e exclusões as quais vivenciaram/vivenciam dentro do movimento. Os movimentos sociais estruturam-se, enraízam-se e emergem, por meio da construção destes vínculos afetivos, uma vez que nos espaços compartilhados de reuniões, eventos e/ou encontros, o companheirismo, a solidariedade, o amor, a esperança, são sentimentos que, quando não ditos, se expressam pelo olhar, pelo toque, pelo gesto, pelo sorriso. Estar nesses espaços é ter a possibilidade de esperançar, de acreditar que mudanças sociais são possíveis, que a partir destes afetos-políticos podemos alcançar outras pessoas e construir a força necessária para contrapor o Estado necropolítico, que põe em curso um projeto de morte; como o que estamos vivenciando atualmente no governo Bolsonaro. Estar nestes espaços nos possibilita re(encontrar) nossa humanidade, natureza, nos reconhecermos enquanto natureza que precisa cuidar da Mãe Terra, pachamama. Não só estar, mas construir estes movimentos, estes afetos-políticos, apresenta um outro mundo possível que, regado a afeto e a ação política, tem potencial de se estabelecer como projeto de sociedade revolucionário. Em contrapartida, a militância não traz apenas afetos como os apontados acima, também é um espaço em que compartilhamos nossas frustrações, angústias, tristezas e desesperanças. Vivemos em um país marcado por desigualdades sócio-estruturais difíceis de serem combatidas, então diversas dificuldades se apresentam, como, por exemplo, construir estratégias e articulações de massificação do povo brasileiro, quando uma parte deste não tem sequer o que comer, em especial no momento de crise sanitária e política que estamos passando. Os desafios constituem os movimentos sociais assim como os afetos, os quais nomeio de afetos-políticos, uma vez que afeto não se separa de política de acordo com a perspectiva aqui adotada. Minha experiência com movimentos sociais, tanto de juventude, Levante Popular da Juventude e Movimento Estudantil (ME), como do campo, Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) ou Movimento dos/as Pequenos/as Agricultores/as (MPA), ou mesmo com lideranças indígenas da comunidade Xucuru-Kariri, de Palmeira dos Índios, dentre outras, me proporcionou (re)encontros, afetos, amizades políticas, vínculos, que, quando o sentimento de desesperança ameaça se instalar, me fortalece para continuar lutando, para continuar acreditando que um projeto de sociedade alternativo é possível e que a nossa força, nosso compromisso ético-político com o nosso povo, são motores da luta, da organização coletiva, dos movimentos sociais. Aprendi a ter um olhar mais sensível, mais encantado pela vida, pelas belezas dela, pela natureza, os animais, as pessoas, um olhar que não está no ato de ver (enxergar), mas no sentir, no permitir afetar-se, no presentificar-se, no acolhimento, escuta, no corpo; corpo coletivo.
Palavras-chave: Movimento Social; Vínculos Afetivos; Política.