Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Caio Monteiro Silva, Pedro Renan Santos de Oliveira
Resumo: Considerando o próprio lugar da formação científica e profissional, especialmente nas Ciências Humanas, é necessário assumir a tarefa de problematizar aspectos violentos, autoritários, epistemicidas e colonizadores que se reproduzem no cotidiano da vida social. Esse trabalho trata-se da experiência da oferta de um Grupo de Estudo e Pesquisa (GEP) em Psicologia, tendo por tema o Colonialismo Mental e Subjetividade Latino-Americana. Assim, o problema social-formativo (ético-político) abordado neste trabalho foram dois: o primeiro relacionado a proposição de ação prática de produção de conhecimento em paralelo e como alternativa ao regime hegemônico já legitimado inclusive pela organização curricular e pelas chancelas da ordem burocrática social. Em decorrência desse primeiro obstáculo se colocavam questões como a relevância e inclusive o próprio desejo e interesse dos estudantes na participação e articulação das tarefas e itinerário necessário à realização do próprio grupo de estudos e pesquisa; O segundo disse respeito a repensar as questões próprias à América-Latina (AL) partindo de outras perspectivas que não meramente locais, ou simplesmente situadas em território latino-americano. Mas que colocassem em questão fundamentalmente a ordem com a qual se organizava o saber, seu estatuto de validade e seus aspecto de reprodução social que impede e invalida o aparecimento de outras ordens contrárias e insurgentes a hegemônica como na consideração crítica ao modelo moderno-iluminista e seus supostos valores civilizatórios universalizantes. O grupo de estudo teve por objetivo principal propor uma aproximação a partir de outras perspectivas epistemológicas (não eurocêntricas) sobre as questões pertinentes a subjetividade latino-americana. A proposta se deu pela organização de encontros ora quinzenais, ora semanais, de aproximadamente 2 horas, por dois semestres, entre 2019 e 2020, em que professores e estudantes reuniam-se para debater os temas relacionados a textos do campo das chamadas epistemologias do sul, ao que convencionou-se chamar de giro decolonial. As vicissitudes dos processos de subjetivação latino-americanos eram a pauta ou fio condutor que deveriam orientar a leitura dos textos selecionados e escolhidos. Embora os textos nem sempre dissessem respeito necessariamente a trabalhos propriamente de ordem psicológica, ainda assim entendia-se a relevância da apropriação teórica e recepção deste conjunto epistemológico como válido e pertinente. Isso porque, uma vez que em uma perspectiva centradamente social da psicologia se faz necessário considerar que os processos de socialização e de produção da subjetividade, são necessariamente atravessados por elementos histórico-culturais, socioeconômicos e ético-políticos, sendo estes elementos indissociáveis da construção das objetividades e subjetividades contemporâneas. A pergunta fundamental de partida que justificava a escolha dos textos em questão, então, era como os processos de colonização constituíram e constituem aspectos próprios no modo de organização das sociedades, instituições e subjetividades latino-americanas. Através de nossa escolha bibliográfica foram possíveis a identificação dos elementos que articularam sintagmaticamente o nosso sistema-mundo atual. Dos debates mais centrais no primeiro semestre, o mergulhar do GEP da indissociabilidade histórico-cultural da construção da Modernidade como Colonialidade, sobretudo para se compreender as experiências subjetivas contemporâneas e suas distinções a partir da territorialização na dinâmica centro-periferia, como apresentados por Quijano, Mignolo, Wallerstein, entre outros. O que se percebeu nesse sentido, com efeitos para formação em psicologia, era que a Modernidade assumia um protagonismo no cenário cultural, a colonialidade no cenário político e o capitalismo no cenário econômico e tais questões tinham por efeito torcer os saberes psicológicos a outro ethos e mesmo outra ontologia, radicalmente distinta da racionalidade europeia. No segundo semestre, o encobrimento do outro, como tematizado em Dussel ocupou papel central, diante dos efeitos formativos que derivaram do primeiro momento formativo. O debate desdobrou a perspectiva crítica em Alteridade e Libertação e seus efeitos em uma psicologia atravessada pela colonialidade. Ativar Outros possíveis em AL era criticar a perspectiva do encobrimento do outro, destronando o Mito da Modernidade como aquele em que a descoberta da América imporia a necessária e justificada violência colonial como forma de civilizar os primitivos, bárbaros, desalmados encontrados originalmente na AL diga-se de passagem, sequer reconhecidos como humanos. Reconhecer o Outro, produzir outras Zonas de Ser inteligíveis e igualmente humanas justo em suas diferenças, requereu tematizar as estruturas de superioridade racial, organizações de ordem patriarcal e modo de produção e reprodução coniventes ao capitalismo em sua lógica de subalternização. A experiência deste GEP de-colônia no curso de Psicologia em uma instituição privada alcançou alguns objetivos, dentre os mais tangíveis, o aprofundamento teórico conceitual sobre temáticas caras as abordagens decoloniais tendo implicações dos participantes no debate sobre as questões raciais e de gênero como clareiras necessárias para o encontro com outras relações de Saber, Poder e Ser. Reconhecemos que o GEP não é transformador, por si só, dos estudantes, mas elemento partícipe e sensibilizador de outras formações ou mesmo desejos formativos e de práxis. Práxis que se põe em embate aos saberes hegemônicos diante de seus limites epistemológicos (saber sobre a realidade) como também histórico-sociais (organização dos modos de presença habituais).
Palavras-chave: Colonialidade; Alteridade/ Reconhecimento; Formação em Psicologia.