Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Luis Fernando de Souza Benício, Carlos Matheus Prado de Queiroz, Yorrana Ferreira Tomaz de Lima, Giovanna Nunes Prates, Larissa Ferreira Nunes, João Paulo Pereira Barros
Resumo: Este trabalho consiste em uma discussão sobre os efeitos do racismo e da colonialidade na saúde mental de pessoas negras, colocando em análise os desafios que se apresentam para a formação em psicologia nos dias atuais. Para tanto, tomaremos o Grupo de Estudos (GE) sobre Saúde mental e (De)colonialidades como experiência de constituição de espaços formativos alinhado a uma perspectiva antimanicomial e anticolonial. O referido espaço, vinculado ao VIESES-UFC: Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação, que articulou alunos(as) dos cursos de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE), foi criado para tensionar, debater e discutir possibilidades epistêmicas para um exercício decolonial no campo da atenção psicossocial no Brasil, apostando em saberes subalternos do campo da saúde mental historicamente apagadas nos currículos de Psicologia. Os encontros ocorreram semanalmente durante um semestre, com o uso de ferramentas dialógicas e interativas, as quais fomentaram discussões sobre colonialidade, de(s)colonialidade, racismo, interseccionalidade, saúde mental e atenção psicossocial, produzindo diálogos com Frantz Fanon, Grada Kilomba, Neusa Santos, Maria Aparecida Bento, Lucas Veiga Aníbal Quijano, Bernardino-Costa, Fátima Lima, Silvio Almeida, Achille Mbembe, María Lugones, Carla Akotirene e dentre outras(os). Entendemos o colonialismo como uma racionalidade que se refere à dominação, exploração e escravização por parte imperial nas Américas e África, enquanto a colonialidade seria a perpetuação da lógica colonial ainda nos dias de hoje. Ao problematizarmos tais efeito na saúde mental, entendemos a relevância de outras epistemes que levam em consideração as perpetuação da colonialidade nas relações de poder-saber-subjetivação, devido a formulação do mundo moderno estruturado a partir da colonialidade do saber, do ser, do poder e do gênero, já que o mundo e sujeitos como temos hoje foram produzidos tendo como padrão o homem europeu, branco, burguês e com base em ideias biológicas de reprodução. Assim, legitimam-se relações de poder com base na ideia de raça (como também na de gênero e classe), em níveis institucionais, políticos, epistêmicos e nos modos de subjetivação. A fins de exemplificação, as condições da população negra no Brasil, levando em consideração o mito da democracia racial, perpassam pela a morte em diferentes aspectos, desde sua experiência enquanto escravo ao contínuo genocídio negro brasileiro, possibilitada por diferentes dispositivos de poder tais como: a guerra as drogas e a recente chacina do jacarezinho no Rio de Janeiro. Tais acontecimentos permeiam a construção dos modos de ser, estar e ser reconhecido no mundo, consequentemente afeta a saúde mental da população negra. Quando pensamos em sujeitos que são atravessados por outras camadas de opressões sociais, é possível observar maior sofrimento diante do risco e vulnerabilidade de vida, saber mulheres negras ou populações indígenas que não seguem a cisheteronormatividade. Diante desses fatos, e do processo histórico que foi o reconhecimento da psicologia como ciência, compreendemos que tal saber desconsiderou e ainda desconsidera a dimensão racial/colonial do sofrimento psíquico, sobretudo ao colocar a experiência do homem branco de classe média enquanto parâmetro universal. Tendo em vista, inclusive, a utilização de manuais e instrumentos de tipificação e descrição das patologias de forma internacional, mais uma vez, permitindo a perpetuação de uma estrutura colonial de construção de saberes. Portanto, tais discussões nos posicionam criticamente diante da formação em Psicologia, em prol de um exercício de produção de saúde que não ignore as marcas coloniais perpetuadas no presente. Nesse sentido, o grupo enquanto um dispositivo de enunciação, apoiou-se na crítica da colonialidade, como uma racionalidade atuante nas formas de compreender e intervir nos processos de saúde-doença-cuidado, colocando-nos o exercício de desnaturalizar a produção do conhecimento, as desigualdades estruturantes que contribuem para o não acesso ao cuidado e as violências institucionais perpetradas nas práticas em saúde. Permitindo assim, tensionar, desestabilizar e desnaturalizar os processos de saúde, doença e cuidado em saúde mental. Além de possibilitar a produção de outros territórios existenciais e epistemológicos para estudantes de psicologia participantes do grupo de estudos.
Palavras-chave: Saúde mental; Colonialidade; Psicologia.