Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
João Miguel Lima Themótheo
Resumo: O Projeto Pensando Caminhos, Construindo Profissões é uma extensão do Laboratório em Psicologia, Subjetividade e Sociedade (LAPSUS), do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, e tem como objetivo problematizar, com os alunos do Ensino Médio e os demais agentes da comunidade escolar de escolas públicas da periferia de Fortaleza, os tensionamentos e os atravessamentos envolvidos no período pré-vestibular e o processo de construção de um projeto de vida, transversalizando questões sobre práticas de saúde em tempos de pandemia. Sendo este, um processo de grande relevância, pois constitui-se como parte da vida e que costuma ser permeado de dúvidas e de pressões, as quais podem ser impostas pela família, pela escola, pelos amigos, pelo próprio jovem fruto também dos novos contornos profissionais relacionados às noções neoliberais e de empreendedorismo que permeiam a educação. Utilizamos os princípios teórico-metodológicos da pesquisa intervenção (PI), a pesquisa-ação participativa crítica (CPAR), bem como os estudos realizados acerca da orientação profissional, principalmente no Brasil, a fim de problematizar os caminhos trilhados por esses jovens até a escolha da profissão. Frente à pandemia da COVID-19, o projeto precisou reinventar-se. Conforme a Resolução Consuni n.08, de 31 de março de 2020, as atividades devem ser realizadas de forma remota até perdurarem as medidas restritivas, visando a segurança sanitária. Assim, procuramos adaptar as discussões para as tensões do período pré-vestibular e da escolha profissional, na nova forma remota de educação, de modo a abranger as novas incertezas nesse momento inesperado de mudanças nos processos de estar com a escola, de ingressar no mercado de trabalho e/ou no ensino superior. A pandemia escancarou desigualdades que assolam, especialmente, corpos negros, pobres e periféricos, em uma necropolítica que impõe um imperativo de que "quem não tem acesso às tecnologias de informação, não tem acesso à educação". Ademais, Mandelli, Soares e Lisboa (2011) pontuam como o marcador de classe social atravessa os jovens na construção do projeto de vida. Enquanto jovens de classe alta condicionam suas perspectivas de futuro à universidade, priorizando um processo educativo formal, jovens de classes menos favorecidas inserem-se, desde cedo, no mercado de trabalho, muitas vezes, concomitante aos estudos, o que comumente resulta em processos de evasão escolar. Em 2020, realizamos grupos com pré-universitários e atuamos, por meio de rodas de conversas, de palestras e de ações voltadas para escuta e discussão dos temas com os professores, coordenação e direção. As atividades no formato remoto acessaram espaços em que ocorriam atividades da escola através da plataforma Google Meet. Foram construídas rodas de conversa com estudantes e professores/as do ensino médio para pensar, discutir e compartilhar entre a comunidade escolar e o grupo participante do projeto as diversas questões que atravessam esse momento, como a falta de perspectiva nos estudos e na atividades depois que se formarem na escola, ansiedade, depressão e as relações familiares, dentre outros temas. Ademais, foi objetivado compreender modos de subjetivação ocorridos nos jovens e por quais formas a Escola e o corpo docente participam desse processo, refletindo sobre possibilidades de caminhos no campo profissional diante da situação pandêmica. Como os estudantes relacionam-se com a escola de forma remota, e de que forma os desafios que o contexto em que vivem alterou seus projetos de vida, refletindo sobre as novas formas de trabalho, as questões relacionadas ao modo de capitalismo neoliberal, problematizando o papel do sujeito diante das exigências desse novo formato laboral, como o único responsável por si mesmo. Em 2021, escolhemos juntamente com a gestão das escolas públicas da periferia de Fortaleza, um representante estudantil de cada série para contribuir na seleção dos temas principais para a construção dos trajetos que vão ser seguidos nos encontros. Foi desenvolvido um questionário, por meio da plataforma Google Forms, para apresentar a extensão aos estudantes e consultá-los sobre os temas de maior interesse dentro dos dois trajetos de discussões: saúde mental (ansiedade, depressão, estresse e autoconfiança) e projeto de vida (mundo do trabalho, escolha profissional, relações familiares). A construção coletiva do formulário com a participação de secundaristas na organização, vai ao encontro da política de pesquisa inscrita tanto na PI quanto da CPAR: pesquisar COM jovens, e não SOBRE jovens. Em um cenário nacional de educação precarizada, a instituição escolar enfrenta dificuldades de garantir o direito da educação para todos nesse contexto de desmonte. Da mesma forma, a extensão universitária também encontra desafios para cumprir sua função política e social com a comunidade. O projeto, ainda em curso, tem oportunizado reinventar estratégias de promoção de saúde, considerando a importância da atuação da Psicologia no contexto escolar, ainda que diante das diversas dificuldades dos encontros remotos, de forma a permitir emergir e dar vazão às inquietações desse período, assim como o modo das juventudes despedirem-se do espaço escolar e se aproximarem de outros espaços.
Palavras-chave: Escola; pesquisa-intervenção; pandemia