Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Alina Mira Maria Coriolano
Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar e refletir a partir de uma experiência enquanto psicóloga social numa organização não-governamental (ONG) localizada no município de Jaboatão dos Guararapes - PE. A ONG realiza atendimentos a pessoas com necessidades especiais sendo estas, em sua maioria, crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. Dentre a variedade de diagnósticos dos usuários do serviço, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é o mais frequente. A equipe de trabalho é multiprofissional e é composta por psicólogos, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, nutricionista, psiquiatra, profissional de educação física, pedagogas e psicopedagogas. As crianças e adolescentes participam de atendimentos com profissionais diversos a depender de suas demandas específicas. Para além dos atendimentos voltados a elas/es, a instituição oferece também atendimentos às famílias destes. Entende-se aqui por família, pessoas que mantém vínculos de afeto independente de consanguinidade. Desta forma, durante estes atendimentos participam mães, pais, madrastas, padrastos, irmãs/ãos, avós/ôs e cuidadoras/es. Ressalta-se ainda que cada família se constitui de modo particular e que cabe a/ao psicóloga/o respeitar a diversidade humana e evitar dicotomias como família estruturada e família desestruturada, por exemplo (FERRARI, 2003). Cientes de que cada pessoa afeta e modifica a dinâmica de toda a família, isto tende a ser intensificado quando há algum familiar com necessidades especiais. Afinal, antes mesmo de conhecer a/o bebê se tem expectativas sobre esta/e e uma delas é ser saudável (considerando os marcadores médicos). Machado, Londero e Pereira (2018) destacam que o diagnóstico de TEA altera as rotinas, as dinâmicas e as relações familiares. Nas histórias das famílias atendidas são comuns relatos de separação/divórcio, abandono, negação e dificuldades financeiras. Os membros da família tendem a se afastar do convívio social, apresentam elevados níveis de estresse, sentem culpa, centram-se na criança, vivenciam falta de apoio, dificuldade no acesso aos serviços de saúde impactando na qualidade de vida destes (BARBOSA; FERNANDES, 2009; MACHADO, LONDERO; PEREIRA, 2018). Refletindo sobre estas questões, o grupo psicossocial foi criado com o objetivo de receber estas famílias e propiciar um ambiente de acolhimento. Os grupos funcionam de maneira que cada criança ou adolescente tem, ao menos, um familiar participando dos encontros semanais. Devido ao grande número de usuários, são realizados, em tempos comuns (sem pandemia), 8 grupos com cerca de 10 pessoas. Os grupos ocorrem em formato de oficinas fazendo uso de textos, vídeos, rodas de diálogo e práticas de intervenção grupal. Também é realizado o acompanhamento individual dos membros das famílias, conforme pedido de qualquer um/a delas/es e/ou a partir do encaminhamento pelos profissionais do serviço. Sendo realizada a análise dos relatórios trimestrais do último ano, é possível destacar a criação e fortalecimento de vínculos / desenvolvimento de afetividades (durante o avançar do ano nota-se que as/os participantes do grupo estão envolvidos por laços de amizade e que estes se perpetuam além dos limites físicos da sala de atendimento e da instituição) ; maior autoconhecimento e conhecimento mútuo; sentimentos de pertencimento, aumento da autoestima, atitudes de acolhimento e inclusão na dinâmica dos grupos. Diante a reavaliação da proposta elaborada e das atividades realizadas, o trabalho que está sendo desenvolvido demonstra estar produzindo um impacto positivo na vida destas famílias. Durante o trabalho com pessoas com necessidades especiais é essencial buscar envolver as famílias, não somente porque estas podem ser uma extensão do que é desenvolvido no ambiente terapêutico, mas também porque quem cuida precisa igualmente ser cuidado.
Palavras-chave: Intervenção psicossocial; Trabalho com Famílias; Acolhimento familiar.