Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
João Batista da Silva Dantas
Resumo: Nós humanos somos naturalmente seres terrestres, mas muito antes de inventar a roda, os nossos ancestrais já possuíam mãos calejadas de tanto remar. É o que mostram as pesquisas arqueológicas que afirmam que a roda foi inventada em meados de 3500 a.C. enquanto os primeiros meios de transportes que se tem registro são pequenas embarcações que datam de 5500 a.C. Feitas a partir de troncos de árvores, estas canoas, também conhecidas como pirogas, eram utilizadas em rios ou na costa litorânea para a pesca. Na região do Seridó, interior do Rio Grande do Norte, encontram-se inúmeros sítios arqueológicos, localizados no alto de serras e em leitos de rios e destacam-se algumas figuras de supostas embarcações. Fato que intriga cientistas e visitantes uma vez que, nesta região de bioma semiárido, não existiam rios ou lagos navegáveis. Mas, após séculos da chegada dos primeiros colonizadores, no ano de 1959, foi inaugurada, em Acari-RN, a barragem Eurico Gaspar Dutra (Gargalheiras) construída como uma tentativa do Estado para solução do problema da seca. Neste lugar se fixaram trabalhadores da construção e suas famílias dando origem à comunidade Gargalheiras, cuja atividade econômica principal é a pesca artesanal. Lá, as canoas de madeira ainda são utilizadas como meio de locomoção e ferramenta de trabalho. Gargalheiras é mais do que um açude ou uma vila. É no Gargalheiras que as pessoas se encontram. Seja um turista que se espanta com a beleza da paisagem, seja a comunidade que se orgulha de pertencer ao local e tira o seu sustento por meio da pesca. Para os estudos das relações pessoa-ambiente, lugar é o espaço com o qual se estabelece relação. É algo que vai além do espaço. É onde moramos, trabalhamos, nos divertimos, vivemos. É um espaço ao qual se atribui significado e que ganha valor pela vivência e pelos sentimentos. Nesse sentido, a canoa ocupa o papel de um elemento característico do espaço e do lugar. Ela é símbolo de prosperidade, é por meio da canoa que o pescador obtém o peixe que traz o sustento da sua família. O mesmo podemos pensar sobre as inscrições rupestres. Os arqueólogos afirmam que as pinturas rupestres provavelmente começaram como atividades lúdicas e logo adquiriram caráter social de registrar a memória de um grupo, evocando acontecimentos reais ou míticos. As pinturas funcionam também como um sistema de comunicação social essencial para a sobrevivência. Além disso, a arte rupestre nos permite imaginar como essas pessoas sentiam diante da natureza, da consciência de si e do outro, da vida em comunidade, as divindades, os rituais. Portanto, as canoas utilizadas pelos pescadores do Gargalheiras, bem como as inscrições rupestres, são produtos da interação pessoa-ambiente e para além da dimensão física, são expressões da identidade e percepção ambiental das pessoas pertencentes ao lugar. Sem dúvida as pinturas rupestres foram um meio de expressar o pertencimento de lugar daqueles que as produziram em tempos longínquos e ainda funcionam de maneira semelhante para aqueles que sentem uma ligação com o lugar e a ancestralidade expressa seja nas pinturas ou nos costumes preservados na nossa sociedade. No presente trabalho, foi utilizada como metodologia pesquisas bibliográficas em repositórios e em buscas na internet. Além disso, foram feitas análises de fotografias feitas em prospecções nos locais, anteriores à pesquisa. E dada a dificuldade de se encontrar pesquisas da Psicologia Ambiental sobre o tema, especialmente sobre os povos tradicionais do Seridó, bem como a escassez de informações e registros históricos sobre os povos originários desta região, o presente trabalho não tem como objetivo esgotar o assunto. O trabalho vem como uma oportunidade de refletirmos sobre o papel da ancestralidade indígena tão renegada no Sertão do Seridó, bem como a preservação de práticas e saberes das comunidades locais, em especial os pescadores do Gargalheiras. Que este trabalho sirva como sugestão para novos trabalhos que venham a se aprofundar mais no tema trazendo mais reflexões e novas descobertas.
Palavras-chave: Pessoa-ambiente; ancestralidade; pinturas rupestres