Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Ana Beatriz de Oliveira Chagas, Amanda Klicya Jales Rezende, Évilla Karielly Fernandes, Fernanda Fernandes Gurgel
Resumo: As atividades exercidas pelas mulheres agricultoras, apesar de serem de grande importância para o campo e para a vida, ainda não possuem o reconhecimento necessário para fazê-las passíveis de todos os direitos que a elas deveriam ser destinados. As mulheres do campo se desdobram em inúmeros papéis sociais, realizando trabalhos laborais e domésticos, e ainda sofrem com invisibilização e com o distanciamento de uma noção produtiva, que deveria estar vinculada às suas vivências. Às mulheres, que desempenham carga horária dupla, às vezes tripla, de trabalho, fica a negligência do Estado e a própria falta de reconhecimento advindo delas mesmas, para guiá-las a uma realidade mais inclusiva. É partindo deste ponto que a pesquisa em questão objetivou investigar quais são as implicações do debate sobre gênero existentes na vida da mulher agricultora e, consequentemente, como a temática de gênero passa a se configurar ao longo do tempo. De caráter qualitativo, este estudo foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas, compostas por questões relacionadas à vivência da mulher sertaneja, incluindo seu contexto social e de trabalho. O estudo se passa na área periurbana da cidade de Santa Cruz/RN, e as participantes foram escolhidas a partir dos seguintes critérios: ser alfabetizada, ser agricultora familiar, ter idade superior aos 18 anos e ter vivenciado pelo menos uma seca. Foram realizadas 8 entrevistas e os resultados mostrados a partir delas estão relacionados à representatividade feminina em ascensão dentro da agricultura familiar, juntamente com a sobrecarga de trabalhos desempenhados pelas mulheres, tanto as mães quanto as filhas, dentro de casa e no campo. A jornada excessiva de trabalho é, infelizmente, algo que segue em repetição ao longo da história, sendo as mulheres atreladas apenas aos trabalhos reprodutivos, mesmo desempenhando diversos outros papéis sociais, que não são reconhecidos, às vezes nem por elas, como trabalho. Diante disso, espera-se que existam cada vez mais meios de visibilizar as mulheres campesinas, para que elas possam ser reconhecidas e respeitadas nos espaços que elas já ocupam. Se faz imperativa a existência tanto de políticas públicas que possam não só subsidiar estas mulheres, como também lhes dar espaços para desempenhar suas atividades; quanto de mais estudos e discussões acerca da temática, dando às mulheres mais possibilidade de lugares para falar de si e das suas experiências. Do estudo, retira-se ainda o entendimento de que, apesar do protagonismo crescente da mulher agricultora em seu espaço de trabalho e de vida, lhes faltam garantias para o desempenho desses diversos papéis sociais (mulher trabalhadora, mãe, chefe de casa). A despeito das grandes dificuldades diárias relatadas por elas, é possível perceber também que a luta dessas mulheres se dá, principalmente, por direitos que deveriam ser básicos para todos: direito à terra, à previdência social, à existência, direitos que são arrancados das mulheres à luz de um sistema patriarcal que segue ferindo e deixando suas marcas, resguardado pelo capitalismo que, constantemente, favorece a figura masculina em seus diversos âmbitos. Às mulheres, é necessário o reconhecimento das suas lutas, garantindo trabalho digno, assegurado por benefícios que lhes são direito, e por um ambiente que, ao invés de invisibilizar, emancipe.
Palavras-chave: agricultura familiar; gênero; mulheres do campo.