Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Adelaide Suely de Oliveira, Maria Cristina Lopes de Almeida Amazonas, Marina Bezerra Galvão
Resumo: Essa pesquisa teve como objetivo identificar e analisar estratégias utilizadas por homens trans no processo de transição de gênero que produzem efeitos sobre a constituição de suas subjetividades. Para efeito deste estudo, usamos portanto, a expressão homens trans compreendendo-os como aquelas pessoas que foram designadas como meninas ao nascer, mas que no decorrer de suas vidas passaram a se identificar como homens, e realizaram integral ou parcialmente as modificações necessárias a essa nova identidade, que vão desde modificações comportamentais, corporais cirúrgicas ou não documentais ou de vestimentas. A única condição para que uma pessoa possa ser reconhecida como trans é que se autodenomine ou se auto-reconheça como dissidente do pertencimento de gênero exclusivo que lhe foi imposto no nascimento. Assim, se ela foi compreendida como homem no nascimento, é necessário que ela não se veja como um homem e, sim, como uma mulher (no caso das mulheres trans), ou não se veja exclusivamente como um homem (caso de algumas travestis e de pessoas que se consideram como não binárias, por exemplo). As pessoas trans sempre existiram, embora com outras denominações e com trajetórias muitas vezes ignoradas pela maior parte das pessoas e sua presença passou a ser mais notada à medida em que a sociedade ocidental se tornou cada vez mais binária em torno dos gêneros feminino ou masculino. Essa pesquisa foi realizada por redes de computação, utilizando a plataforma YouTube, que possui um sistema de compartilhamento de vídeos, facilitando a vida do usuário que passou a contar com uma plataforma integrada habilitada a realizar upload, ou seja, mandar um arquivo direto do computador para a rede, manipular e editar, compartilhar e assistir tudo no mesmo local. O YouTube é ainda o maior repositório de vídeos na internet, onde usuárias e usuários conectados (as) em rede postam suas performances em vídeos, contando seus processos de transição, relatos diversos sobre as dosagens mensais, efeitos e mudanças corporais da testosterona, uso do packer, do binder, cirurgias masculinizadoras, depoimentos de mães e pais sobre a experiência de ter um filho trans entre outros assuntos abordados. A maior parte das questões trazidas nessa espécie de semanário virtual está relacionada à transição, à masculinidade do homem trans e às transformações corporais e físicas vivenciadas pelos homens trans. Foram estudados seis homens trans, com idade entre 21 e 25 anos, das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Foram analisados 223 vídeos, perfazendo um total de 21 horas e 36 minutos. Como base conceitual para amparar as nossas análises, trabalhamos com a noção de sujeito, agência e performatividade no pensamento de Judith Butler e o sistema sexo-gênero-desejos e práticas sexuais em Paul Preciado. É a agência que rompe as lógicas hegemônicas e permite ressignificar práticas sociais e subjetividades. Tecemos algumas considerações, tais como: 1) o uso do banheiro é um problema para as pessoas trans, por medo de não ser lido como homem e, consequentemente, sofrer violência; 2) Alguns signos masculinos são destacados como importantes para a leitura de gênero feita pela sociedade: ter barba, usar bigode, a voz grossa e roupas masculinas são alguns exemplos. A análise ainda está em andamento, mas já é possível observar que o uso dessas estratégias produzem efeitos sobre o modo como essas pessoas se subjetivam.
Palavras-chave: Homens trans; Transmasculinidades; YouTube.