Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VII, 2021
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
PSICOLOGIA SOCIAL & LUTA ANTIRRACISTA: REFLEXÕES E ESTRATÉGIAS ÉTICO-POLÍTICAS A PARTIR DA INTERSECCIONALIDADE
ISSN 2965-226X
Antonio Luiz da Silva Neto
Resumo: Este trabalho apresenta um desenvolvimento textual sobre a interseccionalidade que atravessa a constituição subjetiva do homem negro gay cisgênero. Em decorrência da historicidade e constructos sociais, são estabelecidos estigmas, preconceitos e discriminações aos marcadores sociais do homem negro gay cisgênero. Tendo em vista que a constituição humana se configura através das experiências subjetivas e individuais que, por sua vez, são influenciadas pela história de vida e contexto cultural, conceitua-se plausível questionar, quais as reverberações do cruzamento interseccional de raça e sexualidade do homem negro gay cisgênero no Brasil? O objetivo é refletir sobre as experiências o homem negro gay cisgênero no Brasil, considerando a interseccionalidade de raça e sexualidade nesse sujeito. O termo Experiências trazido para esta discussão refere-se aos sentidos que o sujeito atribui através de suas vivências consigo, com os outros e com o mundo. A acepção dada a figura masculina contribui para a estruturação da identidade do ser homem, delimitando comportamentos, atitudes e emoções a serem seguidos (CONELL, 1995 apud NETO; FIRMINO; PAULINO, 2019). De acordo com Mundo (1995) apud Da Silva Alves e De Araújo (2020) o conceito de Interseccionalidade surgiu nos EUA na década 70 por meio do movimento feminista negro que se posicionou contra imposições identitárias subjetivistas centralizadoras que monopolizavam e hierarquizavam por privilégios atribuídos a gênero, raça e sexualidade daquela época. Assim, a ideia se expandiu no campo teórico, abrangendo também cruzamentos de marcadores de gênero, raça, sexualidade, etc., das minorias. O estudo tem caráter qualitativo, visando investigar as experiências o homem negro gay cisgênero no Brasil, considerando a interseccionalidade de raça e sexualidade nesse sujeito por meio de observações diretas vivenciadas no contexto social e revisão de material bibliográfico. Foram feitos diálogos de diversos autores que tratam sobre o assunto que possibilitaram refletir sobre as experiências o homem negro gay cisgênero no Brasil, considerando a interseccionalidade de raça e sexualidade nesse sujeito (MINAYO, 2013). Após análises dos conteúdos bibliográficos, observou-se que o racismo é principal condutor que impacta as subjetividades negras, Veiga (2019) considera o Brasil um país antinegro, além do mais, foi o último país a abolir a escravidão na América do Sul. O ódio gerado pelo sistema do racismo introjeta-se nas subjetividades negras através de sentimentos de inferioridade e inutilidade em relação aos privilégios da branquitude, podendo implicar num doloroso processo de ódio a si mesmo e de toda raça negra, bem como, afetações do racismo aos corpos e às subjetividades negras geradores de culpa pela situação socioeconômica precária atual de grande maioria da população negra (VEIGA, 2019). Côrtes e De Souza (2019) mostram que os estereótipos estipulados ao homem negro levam a hipersexualização deste e, na intersecção com a homossexualidade, se intensifica pela objetificação do corpo que é associado ao homem gay. Assim, o homem negro gay cisgênero fica suscetível a ser associado a uma figura de inferioridade e a sofrer maiores desigualdades, tal como, maiores chances de, através de suas experiências e construções subjetivas, desenvolver uma autoimagem negativa que lhe desencadeie desordens em sua dimensão psíquica, de tal forma, que o leve a um processo de adoecimento em decorrência da sua auto percepção (DA SILVA ALVES; DE ARAÚJO, 2020). Segundo Moutinho (2014) apud Da Silva Alves e De Araújo (2020), o índice de mortalidade tantos dos homens gays quanto dos homens negros no Brasil é alto, tendo em vista isso, os autores supõem que os cruzamentos desses marcadores num único sujeito tornam mais suscetível os homens negros gay cisgênero à abusos, violências e agressões ainda mais intensas nas suas inter-relações com a sociedade, como, a vulnerabilidade a riscos de morte prematura. Em suma, o homem interseccional negro e gay está suscetível a danos mais severos a sua integralidade humana, intensificando sua invisibilidade, preterimento e exclusão do meio social. A falta de notoriedade às experiências pouco empoderadas, fragilidades emocionais e vulnerabilidades psicológicas causados por estigmas sexuais e étnico-raciais, impactam negativamente a subjetividade dos indivíduos (CFP, 2017). A partir das sobreposições desses movimentos e à luz da interseccionalidade, conclui-se que modos de exclusão sociais a condições identitárias como negros e gays acumulam estigmas, preconceitos e discriminações que interferem na qualidade de vida dessas pessoas, alvos de aversões sociais. Além dessas circunstâncias levarem a invisibilidade social e sugerirem que o homem negro gay cisgênero têm especificidades que apontam para desafios de elaboração de planos de cuidados do envelhecimento saudável desse público, estatísticas mostram que a soma de desigualdades étnico-raciais e sexuais, produzem arbitrariedades em saúde, educação e no perfil socioeconômico, que possibilitam uma maior marginalização social do homem negro e gay que do homem branco e hétero.
Palavras-chave: Negro; Gay; Homem.